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Cannes tem abertura chocha com filme de Marion Cotillard

Filme de Arnaud Desplechin, que inaugura a 70ª edição, não consegue dar conta de tudo o que deseja ser

Por Mariane Morisawa, de Cannes
Atualizado em 17 Maio 2017, 15h52 - Publicado em 17 Maio 2017, 15h45
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  • No material de imprensa de seu filme, Les Fantômes D’Ismaël (“os fantasmas de Ismael”, na tradução livre), que abre o 70º Festival de Cannes fora de competição, o diretor francês Arnaud Desplechin, astante vago sobre a trama, disse que o descreveu assim a um amigo: “Eu acho que criei uma pilha de pratos de ficção que vou quebrar na tela. Quando todos estiverem quebrados, o filme estará pronto”. É verdade, mas o longa-metragem, exibido para jornalistas na manhã desta quarta-feira, tenta rodar tantos pratos ao mesmo tempo que acaba com pouco mais que uma pilha de cacos.

    Desplechin já mostrou seu talento em trabalhos como Um Conto de Natal (2008), mas aqui a realização de seu plano ambicioso de misturar gêneros, ficção dentro da ficção e realidade e fantasia, com muitas referências a seus filmes anteriores, ficou um pouco aquém. O longa começa com Ivan Dédalus (Louis Garrel), um homem que parece pouco qualificado, mas mesmo assim vira uma espécie de lenda nas relações exteriores francesas – muita gente acha que ele é um espião. Mas logo fica claro que se trata de um personagem do roteirista e cineasta Ismaël Vuillard (Mathieu Amalric, em seu sétimo longa com o diretor) – mesmo nome do personagem do ator em Reis e Rainha (2004). Viúvo de uma mulher desaparecida há 21 anos, Ismaël encontrou o amor e uma certa estabilidade com a astrofísica Sylvia (Charlotte Gainsbourg). Mas numa temporada na praia, Carlotta (Marion Cotillard), a mulher desaparecida, retorna, exigindo seu amor de volta.

    Muita gente não é bem quem parece e muita coisa não é o que aparenta neste longa, cheio de paralelos com outras obras do cineasta – Marion Cotillard, por exemplo, trabalhou com ele 21 anos atrás, mesmo tempo do desaparecimento de Carlotta, que tem esse nome muito provavelmente por causa da mulher por quem Madeleine (Kim Novak) é obcecada em Um Corpo que Cai, de Alfred Hitchcock. Mas a verdade é que acaba parecendo que tudo só tem (alguma) graça para iniciados.

    Curioso saber que existe uma outra versão, 20 minutos mais longa, e, de acordo com Desplechin, mais filosófica – esta seria mais focada nas relações amorosas. Faz pensar se seria mais interessante, já que os relacionamentos, cheios de drama, gritaria e pouco maduros para personagens dessa idade, não chegam a empolgar. Pena porque é um elenco e tanto. No fim, Les Fantômes D’Ismaël é uma abertura chocha para uma edição tão importante.

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