A Bienal de Veneza anunciou que pretende barrar delegações russas nos eventos de sua organização, como o Festival Internacional de Cinema de Veneza, mas não irá proibir que artistas russos independentes compareçam. Em comunicado enviado à imprensa nessa quarta-feira, 2, a organização expressou apoio à Ucrânia, mas afirmou que não irá fechar as portas a quem se opõe à “decisão inaceitável de atacar um estado soberano e sua população indefesa.” “Para aqueles que são contra o atual governo russo, sempre haverá espaço nas exibições da Bienal, da arte à arquitetura, e nos festivais de cinema, dança, música e teatro”, diz o comunicado.
A decisão vai ao encontro das ações tomadas pelo Festival de Cannes, que baniu delegações russas da cerimônia que acontece ente 17 e 28 de maio, mas expressou apoio aos cidadãos e artistas do país que condenam a invasão da Ucrânia. Outra instituição que seguiu caminho parecido foi o Festival de Locarno, na Suiça, que se recusou a banir filmes russos de sua programação em nome da “liberdade de expressão e da arte cinematográfica em todas as suas formas.”
Com isso, os eventos contrariam, em parte, o pedido de boicote da Academia de Cinema Ucraniana, que afirmou que “até mesmo a presença de filmes russos no circuito internacional de festivais cria a ilusão de um envolvimento da Rússia com os valores do mundo civilizado.” A organização também destacou que as empresas cinematográficas pagam impostos ao governo russo, o que, em última instância, “financia o exército.” Com boa parte da indústria aderindo ao boicote como uma forma de isolar Putin culturalmente, os festivais que optarem por permitir a presença de russos emergem como uma possível vitrine de protestos locais, que acabaram afastadas dos grandes circuitos artísticos.
Em entrevista à revista Variety, o produtor Artem Vasilyev disse temer que a indústria cinematográfica russa acabe se tornando uma vítima colateral das ações de Putin. Aleksandra Abykova, representante do filme No Looking Back, uma das duas produções russas excluídas do Festival de Glasgow, disse que “uma proibição geral e boicote de artistas do país significaria silenciar até mesmo as raras vozes de protesto, e não contribuiria para a paz”. “Ao bani-las de eventos internacionais, a Europa está silenciando a voz de protesto russa e isolando pessoas que querem parar a guerra junto daquelas que querem intensificá-la”, opinou um produtor que preferiu não se identificar.