Troque champanhe por chá e a agenda de roteiros que priorizam o frenesi desmedido — museu, teatro, shopping, monumento, igreja — pela calmaria de atividades feitas com o edificante propósito de trazer bem-estar. E não se esqueça de acolher termos como “prática holística” e “elevação espiritual”, além de abrir-se à meditação. Somam-se frequentes pitadas de cuidados com a estética (uma massagem aqui, uma limpeza de pele ali, que ninguém é de ferro), e eis o ponto de partida para um gênero de viagem que vem conquistando cada vez mais gente estressada e ávida pelo dolce far niente, o ócio relaxante, aliado a ganhos físicos e mentais. O turismo wellness, como é conhecido, ascende em meio ao turbilhão do mundo moderno, como bem enfatizou o australiano Cristof Pforr em seu livro Wellness Tourism: a Destination Perspective (Turismo de Bem-Estar: uma Perspectiva de Destino): “A pressa cotidiana e a conexão permanente com a tecnologia criam um caldo propício a transtornos ligados ao stress, e é aí que esse tipo de viagem prospera, como uma espécie de antídoto”.
Os cenários para o bem-bom zen costumam ser deslumbrantes, no esquema minimalista e naturalmente caros. Veterana nesses circuitos, a empresária Fabiana Pastore, 44 anos, incluiu em sua última viagem uma visita à cidade de Varanasi, sede do maior festival religioso do mundo, o Kumbh Mela, no norte da Índia, em 2019. O ápice ficou por conta do momento em que 100 milhões de pessoas se banharam no Rio Ganges. “Presenciei a consagração dos Sadhu, homens sagrados do hinduísmo, com o coração aberto”, diz Fabiana, que converteu a longa milhagem fora do eixo tradicional em negócio promissor, organizando, ela mesma, excursões wellness. A propósito, depois do Ganges, a empresária esticou uma semana no Ananda, spa indiano típico da nova safra centrada no bem-estar: oferece ioga e suas versões pranayama, de meditação, e vedanta, para “uma busca espiritual do conhecimento”, explica. Por 1 000 dólares a diária, Fabiana e seu grupo receberam um brinde: “Meditamos com Deepak Chopra, ícone da medicina corpo-mente”, deslumbra-se.
O conceito de turismo de bem-estar, que tem origem nos anos 1990, vem mudando rapidamente: começou com forte pendor para a estética convencional e hoje abarca toda sorte de tratamentos da medicina oriental e exercícios para a mente — leque que movimenta um mercado de 640 bilhões de dólares anuais, segundo o Global Wellness Institute. Ele cresce 6,5% ao ano, o dobro do restante da indústria. “As pessoas só desembolsam tanto dinheiro porque veem na viagem um investimento em um estilo de vida”, afirma o americano Jason Thelen, fundador da Fountain of You, especializada em roteiros na Tailândia.
Anda muito em voga a ideia de um turismo que extrapole a contemplação e promova experiências. “O viajante de hoje está em busca de algo que o transforme”, diz Melanie Smith, da Universidade de Budapeste. No caso da vertente wellness, a imersão é muitas vezes cinco estrelas (ou seis). Só como aperitivo, no resort Amankora, encravado nas montanhas do Butão, os hóspedes pernoitam em “glampings” (campings de luxo) e se esquecem da vida em banhos de ervas. No spa Mii Amo, plantado no Estado americano do Arizona em um cenário formado por rochas de arenito, os vórtices, a meditação no ponto mais elevado embute a promessa de sorver energia espiritual, conforme reza o folclore indígena. Mas em meio à abundância do zen turismo, acredite, há opções de preços bem mais moderados: ONGs, por exemplo, promovem retiros espirituais pelo valor que o freguês pode pagar. De resto, deixe a agenda em casa, use pouco (ou nada) o celular e boa viagem.
ANANDA IN THE HIMALAYAS
LOCALIZAÇÃO: Uttarakhand, no norte da Índia
ATRAÇÕES: em meio à cadeia montanhosa mais alta do planeta, o silencioso resort desponta como um paraíso para o estudo e a prática da ioga, pilotados por mestres locais
PREÇO (por dia): 1 000 dólares
KALAMAYA
LOCALIZAÇÃO: Surat Thani, no sul da Tailândia
ATRAÇÕES: o espaço se destaca por tratamentos estéticos à base de técnicas especialíssimas
PREÇO (por dia): a partir de 250 dólares
Publicado em VEJA de 5 de fevereiro de 2020, edição nº 2672