Há quatro anos, Miguel Falabella e a produtora de teatro musical Atelier de Cultura trabalham na versão brasileira de Annie, clássica peça americana, inspirada nas tiras do cartunista Harold Gray. Publicado pela primeira vez em 1924, o quadrinho se torna sucesso na década de 1930, quando Annie aflora o discurso político de seu autor, um conservador e crítico de Franklin D. Roosevelt, presidente americano que conduz o país durante a crise econômica conhecida como Grande Depressão.
“Os quadrinhos são mais políticos que a peça. Mas obviamente o musical nos fala de crise, da necessidade de uma canção de esperança, quando não temos para onde correr. Então é parecido com o que vivemos no Brasil hoje”, diz Falabella ao site de VEJA durante coletiva de imprensa em São Paulo.
Diretor e ator do espetáculo, ele garante que a versão é uma adaptação clássica, ambientada nos Estados Unidos dos anos 1930. “Claro que uma analogia com nosso país pode ser feita naturalmente. Aquele foi o pior momento do país americano, com 50 milhões de desempregados. E é o pior momento político deles, como estamos vivendo aqui. Mas a Annie traz esperança. A ideia é que as pessoas saiam do teatro felizes, cantando, não tristes com a política.”
A peça, inspirada na versão da Broadway, que estreou em 1977, gira em torno de uma órfã de 11 anos, que foge do orfanato, mas retorna ao local e acaba escolhida para passar um período com o milionário Oliver Warbucks, papel de Falabella. “Ele é um típico capitalista. Seria um Trump hoje em dia”, diz o ator. “Annie foi uma garota que conseguiu fazer um democrata e um republicano cantarem no mesmo tom”, completa.
O ator ainda ressalta o motivo que o levou a raspar o cabelo para dar vida ao magnata. “Depois de um teste com prótese, eu me conheço, pensei: ‘ou eu ou o cabeleireiro não vai sobreviver até o fim da primeira semana”, brinca.
Já habituado ao teatro musical, Falabella trouxe para o desafio a colega Ingrid Guimarães, na primeira parceria dos dois e estreia da atriz cantando no palco. “Quando o Miguel me falou da peça eu disse: ‘mas eu não sei cantar’. E ele respondeu: ‘ninguém espera que você seja uma cantora, quem compra o ingresso quer ver a atriz que você é, e no máximo vão se surpreender com o quanto você canta bem’”, conta Ingrid. Ela ainda garante que o mais difícil será segurar a emoção ao ouvir no palco o elenco mirim composto por 21 meninas, sendo três delas (Luiza Gattai, Maria Clara Rosis e Sienna Belle) responsáveis pelo papel da protagonista em um esquema de rodízio.
Annie estreia nesta quinta-feira, 30, às 21 horas, no Teatro Santander, em São Paulo.