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Em tempos de coronavírus, a arte ficou a um clique de distância

Há ao menos esse lado bom na pandemia: musicais da Broadway e outras atrações proibitivas para parte do público agora estão disponíveis de graça online

Por Amanda Capuano Atualizado em 3 abr 2020, 18h25 - Publicado em 3 abr 2020, 17h15
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  • Tenho muitos amigos apaixonados por musicais que, não por falta de vontade, nunca pisaram na Broadway. Para vibrar com O Fantasma da Ópera ou Hamilton no coração da Big Apple, é preciso ter “bala na agulha” – com ingressos salgados, viagem caríssima e o dólar nas alturas, a atração é um sonho distante para a maioria dos brasileiros. Ironicamente, graças à pandemia de coronavirus que parou Nova York e fechou todos os cinemas e teatros da cidade, o que antes era distante está agora a um clique de muita gente.

    Andrew Lloyd Webber, o lendário compositor dos multipremiados O Fantasma da Ópera e O Mágico de Oz, irá disponibilizar semanalmente e de forma gratuita uma de suas produções pelo canal The Show Must Go On, no YouTube. A primeira a chegar ao público é Joseph and the Amazing Technicolor Dreamcoat, produção do ano 2000 que ficará disponível por 48 horas, a partir de hoje. Na tentativa de atenuar o sofrimento da quarentena, a plataforma de streaming Broadway HD também liberou o seu catálogo gratuitamente por 7 dias para aqueles que se cadastrarem no site.

    No Brasil, o YouTube é usado pelos roteiristas Charles Möeller e Claudio Botelho para disponibilizar peças online. O Grupo Galpão e a Cia dos Autores também aderiu à iniciativa, assim como muitos outros autores e companhias que levaram o teatro ao público em tempos de quarentena. Há de se lembrar que a ida ao teatro não é um hábito cotidiano para o brasileiro. Segundo uma pesquisa divulgada pelo SESC em 2014, 61% da população do país nunca tinham assistido a uma peça de teatro até aquele ano. Apesar da oferta de sessões populares, é provável que o custo dos ingressos seja um dos motivos para isso. A ironia, portanto, reside no fato de o fechamento dos teatros, no Brasil ou na Broadway, tê-los tornado mais acessíveis do que quando estavam todos de portas abertas. Se as pessoas não podem ir ao espetáculo, o espetáculo tratou de ir até elas – inclusive àquelas que não estariam tradicionalmente sentadas nas cadeiras.

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    Neste ponto, peço desculpas de antemão aos afetados pela pandemia. Não me entendam mal, a situação é grave e só há a lamentar em meio ao caos na saúde pública em muitos países e à contagem de milhares de mortos. A própria indústria cultural vem passando por um cataclisma sem precedentes. Segundo um censo realizado pela Abrape (Associação Brasileira de Promotores de Eventos), 92% dos associados relataram prejuízos que somam R$ 290 milhões apenas com cancelamentos de shows e eventos como os musicais, com estimativa de bater a casa dos bilhões levando em conta toda a cadeia produtiva do setor. Apesar disso, há de se reconhecer que o coronavírus instaurou também uma solidariedade admirável no mundo, em especial na cultura.

    No Instagram, artistas concorridos como os sertanejos Gustavo Lima e a dupla Jorge e Matheus, que costumam cobrar altas cifras por seus shows super produzidos, levaram música para a sala de casa com lives no instagram. E até a tradicional e aristocrática música erudita teve de se curvar à excepcionalidade do momento – de portas fechadas, todas as terças e quintas-feiras, até o dia 16 de junho, a OSESP disponibiliza na página do YouTube da Sala São Paulo concertos marcantes de sua história, acessiveis a quem desejar. Se fossem pagar por todos os shows e atrações disponíveis gratuitamente nas últimas semanas, muita gente acabaria sem salário, ou nunca teria acesso a tudo isso. É possível extrair algo de positivo do drama do coronavírus.

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