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Em ‘O Festival do Amor’, Woody Allen viaja por clássicos do cinema europeu

Comédia romântica se passa no Festival de San Sebástian e olha com humor e melancolia para os mestres do passado como Fellini e Bergman

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 6 jan 2022, 10h13
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  • Desapontado com a própria falta de talento para escrever um livro, o professor Mort Rifkin (Wallace Shawn) lida com uma crise existencial que se agrava com a suspeita de que a esposa, Sue (Gina Gershon), teria um caso com Philippe (Louis Garrel), um cineasta jovem e bonitão. Para salvar o casamento, Mort embarca rumo ao festival de cinema de San Sebástian, na Espanha, onde a mulher, que é assessora de imprensa, vai trabalhar ao lado do cineasta na divulgação de seu novo filme. Mais um alter ego de Woody Allen, Mort é dono de uma acidez mordaz e se rende à paranoia com facilidade – combinação que garante ao filme, já em cartaz, as tiradas irônicas típicas do diretor.

    Seu primeiro filme desde que foi julgado e sentenciado pelo tribunal do cancelamento, Allen não recuou quando celebridades hollywoodianas se recusaram a participar da produção. Assim, o elenco não ostenta estrelas, mas o roteiro mantém as inquietações do diretor como mote. Enquanto todos ao redor exaltam Philippe como o novo gênio do cinema por falar o óbvio (“a guerra é ruim”, defende o jovem diretor aclamado), Mort diz não se interessar por filmes que ficam na superfície dos acontecimentos. Para ele, as questões que de fato importam são mais profundas: a vida é só isso? Há algum propósito? Um significado para tudo isso?

    Allen então insere reproduções cômicas de cenas de clássicos do cinema europeu com temáticas filosóficas. Mort se encontra, por exemplo, dentro de Morangos Silvestres (1957) e O Sétimo Selo (1957), ambos do sueco Ingmar Bergman, grande ídolo de Allen; também mergulha na Nouvelle Vague com Acossado (1960) e Jules e Jim – Uma Mulher para Dois (1962), de Jean-Luc Godard e François Truffaut, respectivamente; participa do estranho jantar de O Anjo Exterminador (1962), de Luis Buñuel; e ainda anda pelos jardins oníricos de (1963), de Federico Fellini. O recurso é uma saborosa piada interna direcionada aos cinéfilos, que Allen faz sem nenhuma culpa ou didatismo para a sorte dos amantes da sétima arte.

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