Último Mês: Veja por apenas 4,00/mês
Continua após publicidade

Eliza Capai, do filme ‘Incompatível com a Vida’: ‘Eu nunca quis abortar’

Diretora de doc a respeito da dura escolha de interromper uma gravidez fala sobre a necessidade de se discutir francamente o tema tabu no país

Por Amanda Capuano Atualizado em 4 jun 2024, 09h49 - Publicado em 25 nov 2023, 08h00

Seu filme foi elogiado pelo The New York Times e está elegível para o Oscar. Como foi essa trajetória de transformar sua experiência pessoal em um documentário? Eu comecei a gravar como registro pessoal da gravidez. Até receber o diagnóstico de que o feto tinha uma malformação, que era incompatível com a vida, e não sobreviveria fora do útero. Não pensei que era possível ficar tão triste com a perda de um feto, mas era meu filho desejado e amado. Senti que tinha uma missão em registrar essa dor.

Algumas mulheres do filme com o mesmo diagnóstico optaram por levar a gravidez adiante, e outras buscaram a interrupção na Justiça. No seu caso, como foi essa decisão? Eu estava em Portugal, onde a interrupção é legal. Ele tinha catorze semanas quando descobri. Acho que cada mulher tem que ter o direito de decidir. Eu nunca quis abortar. Eu estava feliz com a gravidez. Depois, não conseguia me imaginar levando a gestação adiante. As semanas que passei sentindo aquele bebê crescendo, sabendo que ele iria morrer, foram enlouquecedoras.

Como é fazer o procedimento em um país onde o aborto é legalizado? O mais importante é que eu pude falar sobre isso. Se fosse um aborto clandestino, estaria confessando um crime. Brasileiras precisam enfrentar a ilegalidade, judicializar o caso ou são obrigadas a levar a gravidez adiante, além do julgamento social. Não passei por isso em Portugal, tive o apoio e o aconselhamento de médicos.

Como acha que teria sido por aqui? Difícil. Eu tinha uma condição prévia, voltei para casa e minha febre não passava. Fui internada novamente e naquele momento pensei que, se estivesse no Brasil, talvez eu morreria.

Continua após a publicidade

Por quê? Nos países onde o aborto é ilegal, há o medo de ser presa, assim mulheres não contam o que aconteceu. Se eu chegasse como cheguei a um pronto-socorro no Brasil e não falasse sobre o aborto, o tempo que se perderia talvez fosse tarde demais. O fato de que eu ainda tenho meu útero e minha vida é o maior desenho do que significa estar em um país com aborto legalizado.

É a favor da legalização em casos distintos do seu, que tinha um diagnóstico médico? Sim. Acho que só tem que nascer quem é desejado e amado. Estudos mostram que boa parte das mulheres que abortam são religiosas, mães e sem condições de ter outro filho. O direito à escolha é fundamental.

Publicado em VEJA de 24 de novembro de 2023, edição nº 2869

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

1 Mês por 4,00

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.