Foi numa festa estranha e com gente esquisita que Eduardo (Gabriel Leone) conheceu a estudante de medicina Mônica (Alice Braga). Deslocado, o adolescente de moletom e aparelho nos dentes em nada se parecia com os tipos roqueiros da balada, muito menos com a moça que fazia uma insossa performance artística. Ele perde o ônibus para ir embora, ela lhe oferece uma carona de moto. Começa ali um romance que se revelará uma corrida de obstáculos. É difícil que algum adulto no Brasil tenha passado incólume pela canção-chiclete de Renato Russo que inspirou esse enredo. Na música, um rapaz mais novo e uma moça mais velha, completamente diferentes entre si, se apaixonam e formam uma família.
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A letra em forma de narrativa parecia embalada para uma adaptação cinematográfica, e isso se concretiza 35 anos após o estouro da canção com o filme Eduardo e Mônica (Brasil, 2022), já em cartaz. Lançada em 1986 pela Legião Urbana, a música leve — uma exceção solar entre as composições melancólicas da banda — foi hit de uma geração que experimentava a virada político-cultural de uma época cujas liberdades e rebeldias ganharam expressão sonora na explosão do rock nacional daqueles anos.
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A agitação, especialmente na Brasília da redemocratização, foi o pano de fundo da juventude do diretor René Sampaio. Aos 14, quando escutou Faroeste Caboclo, outra trama cantada por Russo, ele decidiu que um dia transformaria a (longa) canção em filme. O sonho foi realizado em 2013, e abriria portas para Eduardo e Mônica. “Adaptar uma música demanda ser fiel à letra e ao sentimento que provoca”, disse ele a VEJA. O trunfo do novo filme, porém, é a expansão desse leque de emoções, resultado alcançado com um roteiro criativo e a ajuda da química tangível entre Alice e Leone. Eduardo é um estudante de pré-vestibular criado pelo avô militar, um apoiador da ditadura que acabara de ser extinta — o longa se passa na mesma Brasília da Legião e do diretor, no fim dos anos 80. Ela é uma jovem de classe média, futura médica em luto pela morte do pai, exilado antes da queda do regime. O frenesi da paixão se mistura a cenários e sentimentos caóticos, expondo muros que, em pleno século XX, ainda separavam famílias. Os opostos se atraem, mas o caminho para o final feliz é longo e sinuoso.
Publicado em VEJA de 26 de janeiro de 2022, edição nº 2773
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