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Drama feminino ‘Pieces of a Woman’ confirma talento de Vanessa Kirby

Na produção da Netflix, a atriz dá vida a uma mulher em reconstrução durante o luto — papel que a coloca entre as favoritas ao Oscar

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h24 - Publicado em 15 jan 2021, 06h00
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  • Piscar é tarefa difícil ao longo da cena que desencadeia o filme Pieces of a Woman, já disponível na Netflix. Em quase trinta minutos de plano-sequência — uma filmagem sem cortes — o trabalho de parto de Martha (Vanessa Kirby) é apresentado do início ao fim. Auxiliada em casa pelo companheiro (Shia LaBeouf) e por uma parteira (Molly Parker), Martha sofre com as contrações, anda de um lado para o outro, sente náuseas e pede por música. Inebriada, se declara ao parceiro — até, enfim, extrair de si a força para que sua filha nasça. A tensão crescente tem um desfecho trágico. Na cena seguinte, propositalmente anticlimática, Martha retorna ao escritório onde trabalha sob olhares curiosos. Ela não quer falar sobre o que ocorreu. Só quer seguir em frente.

    Na vida real, uma dor parecida tomou a roteirista Kata Wéber e seu marido, o diretor Kornél Mundruczó. O casal húngaro que conduz o filme sofreu as dores de um aborto espontâneo — ambos ainda penam para falar a respeito do caso. “O filme foi uma terapia”, contou Kata a VEJA. Para desenvolver seu primeiro longa em inglês, ambientado nos Estados Unidos, o cineasta precisava de uma atriz capaz de carregar uma pesada carga dramática sem resvalar em excessos. Vanessa se mostrou a escolha óbvia logo após a primeira reunião. “Ela tem o silêncio mais bonito que eu já ouvi”, diz Mundruczó.

    Na pele da protagonista, Vanessa está soberba. Cria do teatro britânico, a inglesa de 32 anos, famosa por dar vida à princesa Margaret jovem em The Crown, conduz sua personagem por uma conturbada espiral de emoções. Seu comportamento após a perda torna-se introspectivo e austero. Para a família, porém, suas ações não condizem com os padrões esperados do luto. Especialmente pela falta de interesse de Martha em processar a parteira — caso inspirado em outra história real, da doula Ágnes Geréb, presa injustamente na Hungria. A tensão acumulada por Martha explode perto do fim, em outra cena poderosa, na qual discute com sua mãe (a impecável Ellen Burstyn). Eleita melhor atriz no Festival de Veneza, Vanessa agora surge nas listas dos favoritos ao Oscar (assim como Ellen). Ela fez por merecer um prêmio assim.

    Publicado em VEJA de 20 de janeiro de 2021, edição nº 2721

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