“Durante muito tempo pensei que fosse judeu e era feliz com isso. Ai conheci Susanne Bier (diretora dinamarquesa judia, autora de Em Um Mundo Melhor, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano) e não fiquei tão contente. Então descobri que era nazista, que minha família era alemã. O que me deu muito prazer”, disse Lars Von Trier
Autor de filmes e declarações polêmicas, o dinamarquês Lars Von Trier causou mal estar na manhã desta quarta-feira no Festival de Cannes, com comentários antissemitas. Durante a coletiva de imprensa que se seguiu à sessão de Melancolia, um dos títulos da competição deste ano, o diretor abusou do humor politicamente incorreto e declarou-se nazista ao responder uma pergunta sobre suas heranças germânicas.
“Eu entendo Hitler, até simpatizo com ele”, disse o realizador, sob os olhares estupefatos das duas estrelas de seu novo longa-metragem, Charlotte Gainsbourg e Kirsten Dunst.
Dois anos atrás, Von Trier defendeu com unhas e dentes as ideias por trás de Anticristo, que incluía torturas físicas e uma sequencia de mutilação genital explícita. Desta vez, o realizador chegou próximo do suicídio profissional, ao brincar sobre suas supostas inclinações nazistas.
“Durante muito tempo pensei que fosse judeu e era feliz com isso. Ai conheci Susanne Bier (a diretora dinamarquesa judia, autora de Em Um Mundo Melhor, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano) e não fiquei tão contente. Então descobri que era nazista, que minha família era alemã. O que me deu muito prazer”, disse o diretor.
A repercussão da piada – de péssimo gosto – fez o cineasta, provavelmente alertado por gente mais preocupada com o filme que ele próprio, voltasse atrás horas depois. Von Trier enviou à agência AFP um pedido de desculpas, dizendo estar arrependido. “Se eu ofendi alguém esta manhã com as palavras que disse na coletiva de imprensa, peço desculpas sinceras. Não sou antissemita ou racista de qualquer maneira, e muito menos nazista”, escreveu.
Melancolia é centrado na relação de duas irmãs diante da depressão e do fim do mundo. A primeira parte do filme descreve a recepção de casamento de Justine (Kirsten), durante a qual se revela o estado depressivo da noiva.
A segunda gira em torno de sua irmã, Clarie (Charlotte), que a ajuda a superar a doença que arruinou seu casamento, ao mesmo tempo em que o planeta Melancolia se aproxima perigosamente da Terra. “Não é um filme sobre o fim do mundo, mas sobre um estado mental”, avisou Von Trier.
O filme estreia no Brasil dia 5 de agosto, mas, se mantido o “estado mental” causado pelas declarações do diretor, a repulsa à obra e à figura de Von Trier pode varrer o planeta muitas vezes mais antes da primeira exibição por aqui.
O trailer de Melancolia: