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Crítica a blackface em Show dos Famosos, do ‘Faustão’, desconhece o quadro

Problema — grave, sem dúvida — da prática de brancos se pintarem de negro é a exclusão racial, o que não cabe em quadro pautado pela metamorfose

Por Estadão Conteúdo Atualizado em 2 jul 2018, 17h41 - Publicado em 2 jul 2018, 13h07
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  • A Globo foi criticada nas redes sociais por promover o que muitos entenderam como blackface no Show dos Famosos, do Domingão Faustão deste domingo. Na semifinal do grupo 2 do reality show do programa, que põe celebridades para representar cantores também célebres, a humorista Helga Nemeczyk pintou a pele para fazer uma performance como a cantora americana Beyoncé. Não demorou para que pipocassem queixas nas redes sociais — até porque a emissora acaba de ser criticada e notificada pelo Ministério Público pela representação social entendida como inadequada do elenco de Segundo Sol, folhetim que se passa em Salvador, a capital mais negra do país, que é dominado por brancos.

    Não é a primeira vez que isso acontece nesse mesmo quadro: na final de 2017, o ator Nelson Freitas se pintou de negro para interpretar James Brown e, ao comentar a apresentação, Freitas revelou que “queria ser ‘negão'” como a lenda do soul americano.

    A crítica a Segundo Sol é mais palpável justificada, de fato do que aquela dirigida ao Show dos Famosos. A essência do quadro é a metamorfose. Os participantes, com a ajuda luxuosa das equipes de maquiagem e figurino da Globo, se tornam outros. Assim, Helga já se transformou, por exemplo, na roqueira Janis Joplin, sem que houvesse protestos.

    O blackface surgiu no teatro no século XIX e era mesmo, desde o início, racista. Personagens negros eram estereotipados e ridicularizados por atores brancos que se pintavam com cortiça queimada, por exemplo. Além da agressividade da chacota, o blackface evidenciava que não havia espaço para negros verdadeiros no teatro.

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    A comediante Helga Nemeczyk, que atuou no ‘Zorra Total’, da Globo (Divulgação/Gshow)
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    No Show dos Famosos, a representação de um cantor tem o tom de homenagem. Ser fiel ao original, aliás, é um requisito para obter uma boa pontuação no quadro. Se a queixa é pela pintura, o protesto deveria ser outro: deveriam, por exemplo, reivindicar que negros participassem e se pintassem de branco, se fosse preciso encarnar um cantor como Chico Buarque, digamos, com lentes de ardósia e tudo.

    Confira abaixo algumas das reações negativas ao quadro:

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