Último Mês: Veja por apenas 4,00/mês
Continua após publicidade

Como a invenção do livro moldou a civilização que conhecemos

'O Infinito em um Junco' também analisa a evolução desse mercado do papiro à era digital

Por Amanda Capuano Atualizado em 4 jun 2024, 11h46 - Publicado em 5 jun 2022, 08h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • A primeira palavra de que se tem conhecimento na literatura ocidental é “cólera” — originalmente escrita em grego como ménín. O termo abre a Ilíada, de Homero, autor que se acredita ter vivido na região da Jônia, atual Turquia, no século VIII a.C. Trasmitido a princípio de maneira oral, o poema épico que fala da ira do guerreiro Aquiles na Guerra de Troia foi o pontapé inicial para uma história que é a mãe de todas as outras: a origem do livro, recontada em detalhes no instigante O Infinito em um Junco, da filósofa e historiadora espanhola Irene Vallejo. “Os livros sobreviveram por milhares de anos porque foram capazes de se adaptar. Tivemos livros de papiro, pergaminho, papel, e agora também digitais”, explicou a autora em entrevista a VEJA.

    O Infinito Em Um Junco: A Invenção Dos Livros No Mundo Antigo

    Lançada no Brasil pela editora Intrínseca, a obra viaja à Antiguidade clássica para relatar como a invenção da escrita e o uso dessa tecnologia para registro histórico e literário moldaram o desenvolvimento da civilização tal e qual a conhecemos hoje. Inventada pelos sumérios há 6 000 anos, a escrita nasceu de símbolos complexos desenhados em placas de argila moldadas nas margens dos rios. Batizadas de tabuletas, essas peças foram o embrião do que seriam, posteriormente, os livros. Ironicamente, boa parte dos registros daquela época que restaram vem de peças submetidas ao fogo durante incêndios, já que o calor cozia a argila e tornava a escrita mais resistente aos efeitos do tempo.

    SOB ATAQUE - Biblioteca de Sarajevo (à esq.) e a Inquisição: amor e ódio -
    SOB ATAQUE - Biblioteca de Sarajevo (à esq.) e a Inquisição: amor e ódio – (Manoocher Deghati/AFP; G. Dagli Orti/DEA/Album/Fotoarena/.)

    Foi no Egito, porém, mais precisamente em Alexandria, que a história do livro se desenvolveu de maneira voraz, ganhando contornos quase lendários. Sob o comando do rei Ptolomeu, no século III a.C., o país se estabeleceu como o grande centro cultural do mundo antigo. Grande parte de tal fama se deveu a um plano mirabolante de seu governante: “Ele queria concentrar em um edifício todos os livros do mundo e disponibilizar essa sabedoria a qualquer mente curiosa”, explica Irene. Para isso, o rei enviou soldados em expedições à Grécia para buscar livros, mandou que confiscassem obras no porto da cidade e convocou estudiosos para traduzir livros para o grego, língua dominante na época. Assim, a Biblioteca de Alexandria se tornaria a primeira a romper as barreiras das coleções particulares e ganhar status de pública.

    Continua após a publicidade

    História das Bibliotecas: de Alexandria às Bibliotecas Virtuais

    Isso só foi possível graças ao advento do papiro, que substituiu as placas rígidas por rolos maleáveis de fibra de junco, planta que crescia em abundância nas margens do Rio Nilo. Produzida majoritariamente no Egito, a matéria-­prima era cobiçada no mercado, dando ao império poder semelhante ao desfrutado hoje por grandes produtores de petróleo. Com isso, a Biblioteca de Alexandria floresceu, tornando-se um símbolo do helenismo imaginado por Alexandre, o Grande, ao reunir obras das mais diversas culturas. Até hoje não se sabe quantos exemplares o local chegou a contabilizar: os números vão de 54 800 rolos, segundo Epifânio, até 700 000, na contagem de Amiano Marcelino. Se o Egito lucrou com a ascensão dos livros, Roma tentava imitar a concorrência, desenvolvendo uma literatura encomendada. Cabia aos escravos gregos, bem instruídos, produzir os livros que eram colecionados pela elite local nas vilas romanas.

    COBIÇADO - Papiro egípcio: o país dos faraós extraía poder do comércio de livros -
    COBIÇADO - Papiro egípcio: o país dos faraós extraía poder do comércio de livros – (Josse/Leemage/AFP)

    Ao longo da história, como se sabe, os livros não foram objeto só de amor, mas de ódio. Por razões religiosas ou políticas, autores e obras sofreram perseguições na Antiguidade e Idade Média. A invenção da impressão por Gutenberg, no século XV, ampliou exponencialmente a circulação de livros — mas também a caçada a eles. Foram vítimas das fogueiras da Inquisição e de outros ataques mais recentes: estima-se que os nazistas tenham queimado obras de mais de 5 500 autores, e 188 bibliotecas foram atingidas durante a Guerra da Bósnia — entre elas a de Sarajevo, que perdeu 150 000 títulos raros ao ser atingida por um bombardeio em 1992. A própria Biblioteca de Alexandria foi destruída três vezes, a última delas em 642, quando o comandante árabe Amr ibn al-As teria liquidado os livros restantes a mando do califa Omar I. “O genocídio atinge também as letras, porque nelas sobrevivem uma cultura e uma memória”, afirma Irene.

    Continua após a publicidade

    Com o advento do mundo digital, publica-se um novo título a cada meio minuto. É um volume impressionante: um leitor comum não consegue ler em toda a sua vida o que o mercado editorial produz em um único dia de trabalho. Nunca foi tão fácil e tão difícil acompanhar o avanço da civilização.

    Publicado em VEJA de 8 de junho de 2022, edição nº 2792

    CLIQUE NAS IMAGENS ABAIXO PARA COMPRAR

    Como a invenção do livro moldou a civilização que conhecemosComo a invenção do livro moldou a civilização que conhecemos
    O Infinito Em Um Junco: A Invenção Dos Livros No Mundo Antigo
    Como a invenção do livro moldou a civilização que conhecemosComo a invenção do livro moldou a civilização que conhecemos
    História das Bibliotecas: de Alexandria às Bibliotecas Virtuais
    logo-veja-amazon-loja

    *A Editora Abril tem uma parceria com a Amazon, em que recebe uma porcentagem das vendas feitas por meio de seus sites. Isso não altera, de forma alguma, a avaliação realizada pela VEJA sobre os produtos ou serviços em questão, os quais os preços e estoque referem-se ao momento da publicação deste conteúdo.

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Veja e Vote.

    A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

    OFERTA
    VEJA E VOTE

    Digital Veja e Vote
    Digital Veja e Vote

    Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

    1 Mês por 4,00

    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

    a partir de 49,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.