Com ascensão de Thanos, um vilão tão poderoso que se revela capaz de exterminar metade de todos os seres vivos do universo com um estalar de dedos, a Marvel parecia ter chegado a um impasse: como avançar na história após a morte de diversos personagens – e como conciliar os heróis já estabelecidos com os novos, que ainda precisariam ganhar a simpatia do público? A senha para entender como o poderoso estúdio pretende desenrolar esse problema já estava contida, afinal, na própria ideia aparentemente maluca de dar um fim a todo um panteão de heróis lucrativos. Agora, com o lançamento do novo trailer de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, sua estratégia fica ainda mais cristalina.
Alguns personagens do UCM (o Universo Cinematográfico Marvel) precisavam ter um fim – e tiveram. Homem de Ferro, Loki e a Viúva Negra foram eliminados por Thanos. Capitão América voltou no tempo, e preferiu ficar por lá. O pepino: eles continuam sendo amados pelo público, são personagens que permanecem rendendo imensos dividendos para a empresa e de que ninguém em sã consciência abriria mão tão facilmente. Mas, como se sabe, nada é definitivo no UCM. Com a criação de novos e inesgotáveis “multiversos”, a Marvel encontrou uma ferramenta dramatúrgica não só para reverter mortes a qualquer momento – e explorar surpreendentes conexões entre heróis das cepas mais variadas.
A solução engenhosa de seus roteiristas é a criação de multiversos onde todos podem continuar aparecendo, até mesmo personagens que surgiram no período pré-UCM, como Homem-Aranha, X-Men, Quarteto Fantástico e, por que não, o Motoqueiro Fantasma e o Justiceiro (oi, Nicolas Cage e Dolph Lundgren!). A operação começou a ser desenhada recentemente, com a animação Homem-Aranha no Aranhaverso e as séries da Disney+ Wandavision, Loki e What If…?. Mas ganhou força mesmo foi com a divulgação do trailer de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, e a confirmação do retorno do vilão Dr. Octopus (Alfred Molina), que apareceu no filme estrelado por Tobey Maguire no longínquo 2004.
Agora, uma nova pergunta se impõe: o que esperar desse multiverso expandido da Marvel? As respostas começaram a ser respondidas com as séries da Disney+, mas virão definitivamente no novo filme do Homem-Aranha. No enredo, Peter Parker (Tom Holland) tem sua identidade secreta revelada e todo mundo sabe que se trata do herói aracnídeo. Para mudar isso, ele procura o Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch), que faz um feitiço para que a humanidade esqueça sua identidade. Os desdobramentos a partir daí são imprevisíveis. Embora o trailer tenha mostrado apenas o retorno do Dr. Octopus, o ator Jamie Foxx deverá voltar também como o vilão Electro, abrindo especulações para as participações dos outros atores que interpretaram o Homem-Aranha, Andrew Garfield e Tobey Maguire.
Os próximos passos virão com o novo filme do Dr. Estranho, em Doctor Strange in the Multiverse of Madness (título original em inglês), previsto para 2022, e na segunda temporada da série Loki. Com os multiversos e viagens no tempo estabelecidos, agora a Marvel, em termos de roteiro, pode tudo. Uma história antiga ficou mal contada? Sem problemas. Basta voltar no tempo e a consertar. Um personagem amado morreu? Ele volta à vida num multiverso. Se para o mortal comum ficará cada vez mais difícil acompanhar todo esse complexo cipoal de tramas, o espectador versado nesse universo ficará ainda conectado a ele. As possibilidades são infinitas, assim como ocorre nos multiversos.