Admirar os “brotos”, se reunir com os “bichos” ou dirigir um “carango” compunham o cotidiano da juventude dos anos 1960. Mas nas tardes de domingo, não tinha para mais ninguém: os jovens paravam suas vidas e ligavam a televisão para contemplar os ídolos da Jovem Guarda – Roberto Carlos, Wanderléa e Erasmo Carlos -, o poderoso trio que, para além da música, moldou o comportamento e a moda da época. Foi uma verdadeira festa de arromba – e é isso o que mostra Minha Fama de Mau, a cinebiografia de Erasmo (ou Tremendão, como ficou conhecido) que estreou na quinta-feira 14 nos cinemas brasileiros.
Um Erasmo – ainda sem o Carlos – cheio de disposição para correr atrás de seus sonhos dá as boas-vindas ao público no início do filme. Muitas confusões pela capital fluminense são retratadas até Tremendão chegar ao estrelato no programa de TV da Record, quando o longa ganha um tom de celebração à juventude da época. “Até então, os jovens eram só mini-adultos, que estavam esperando o momento de se tornarem adultos de fato. A Jovem Guarda inaugurou a juventude no Brasil”, afirma em entrevista a VEJA.
O estouro do programa dominical trouxe uma legião de fãs fiéis para os membros da Jovem Guarda – e com elas também o assédio, ponto em comum entre os atores, todos jovens e com milhares de admiradores, e os personagens do longa de Lui Farias. “As pessoas liam mais revistas, os jovens assistiam mais à televisão, mas o assédio, a maneira como o fã se relaciona com o ídolo, ainda é muito parecida”, conta Chay, que ainda pontua que a maior diferença entre ser famoso na época e atualmente são as redes sociais. “Mas acho que o que as redes sociais fazem, esses outros veículos faziam naquele tempo.”
Entre shows, músicas no topo das paradas brasileiras e a euforia das fãs, o enredo mostra o fortalecimento da amizade entre Erasmo e Roberto Carlos, vivido por Gabriel Leone, cujo auge acontece na emocionante cena em que Roberto mostra a música Amigo para o companheiro pela primeira vez. “Fiz questão de que essa cena fosse gravada ao vivo, porque a gente já sabia que ela teria uma carga emocional intensa”, conta Leone. “Não fazia sentido a gente tentar imaginar o que seria a emoção em um estúdio para depois dublar. Ali tinha um tom de encerramento de ciclo, do próprio filme em si e da amizade tão bonita que eu e Chay construímos. Tinha uma verdade muito grande.”
A figura de Wanderléa, na pele de Malu Rodrigues, não é menos importante. A mistura entre a doçura de Ternurinha, como ficou conhecida na época, e a força de uma mulher que defendia os direitos femininos dá um gostinho especial ao longa. “Ela nunca teve vergonha de dizer o que pensava, esteve ao lado de homens muito fortes – o Erasmo e o Roberto – e sempre esteve à altura dos dois”, conta Malu.
A pincelada feminista e o protagonismo de ídolos atuais transformam o filme em uma produção feita sob medida para agradar aqueles que nem eram nascidos quando Tremendão, Roberto Carlos e Wanderléa estavam ajudando a definir toda uma geração. “O filme tem a atualidade do som do Erasmo e ainda Malu, Gabriel e Chay, a ligação com a juventude atual”, diz o diretor.