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Carlinhos Brown: “Sou verborrágico e onomatopeico”

O músico baiano ganha biografia autorizada em que narra desde a infância pobre até o sucesso — além de percalços como o racismo e as vaias no Rock in Rio

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 10h09 - Publicado em 2 set 2023, 08h00
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  • Sua vida é narrada na biografia Meia-­Lua Inteira (Record), de Julius Wiedemann. Aos 60 anos, não acha cedo? Não considero a biografia definitiva e não busco status, nem estou chorando as pitangas. Dizem que sou verborrágico e onomatopeico, mas é natural em alguém vindo da educação oral. Vivi várias vidas em uma. Vivemos num país que não fala só português.

    E que outras línguas são essas? A língua do Brasil é o ritmo. Repare, por exemplo, quando amigos se encontram num bar. Antes de dizer um “oi”, eles chegam dançando, dão aquele abraço e só depois vem o diálogo. Nossa primeira comunicação é o ritmo, e o mundo inteiro se interessa por isso.

    Quando compôs Meia-Lua Inteira, imaginou que seria um sucesso com Caetano Veloso? Escrevi como uma defesa da capoeira. Caetano chorou quando ouviu pela primeira vez e disse que eu havia escrito a história dele. Isso foi muito forte, porque ele é meu ídolo e mestre. Todo intérprete vira seu parceiro e é uma honra para um compositor nascido na oralidade de linguagem semianalfabeta (Brown foi alfabetizado só aos 14 anos) chegar aonde cheguei.

    Para chegar até aqui, o senhor enfrentou o racismo e o preconceito contra o axé. Como analisa esses percalços? O país foi condicionado a não respeitar a África e a subjugá-la numa visão unicamente de que os escravizados foram escravos, perdendo a nossa sofisticação e intelectualidade. Mas o racismo não pode suplantar uma ideia de miscigenação do Brasil.

    As vaias e garrafadas que o senhor levou no Rock in Rio de 2001 são recontadas com detalhes no livro. Faria tudo de novo? A parte que menos gosto dessa história é quando dizem que eu estava no lugar errado. Minha atitude roqueira estava ali, mas não a minha alma, porque ela é brasileira e clamava por autenticidade. Não me arrependo. Eu não estava bem das pernas naquele momento, recém-casado e precisando de grana. A música A Namorada, que cantei lá, foi o que resolveu minha situação financeira.

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    A atitude roqueira estava presente em 1996, quando o senhor compôs Ratamahatta, um dos sucessos do Sepultura? Nessa mesma época compus também Uma Brasileira, com os Paralamas. Com o Sepultura o tambor entra no rock e nasce a bateria tribal, que anos depois inspirou a formação do Slipknot. Dave Grohl, do Foo Fighters, disse que o álbum Roots foi uma inspiração para ele. Essa é a minha missão.

    Publicado em VEJA de 1º de setembro de 2023, edição nº 2857

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