O diretor e um dos produtores do filme Bruna Surfistinha (2011), o cineasta Marcus Baldini, afirmou nesta sexta-feira, 19, por meio de nota oficial que o longa é “um projeto importante tanto pela questão artística quanto pela econômica”. A declaração foi uma resposta ao presidente Jair Bolsonaro, que em cerimônia na quinta-feira no Planalto, criticou a produção.
Em evento comemorativo dos 200 dias de seu governo, o presidente assinou uma medida que transfere o Conselho Superior do Cinema do ministério da Cidadania para a Casa Civil e afirmou que não pode “admitir que com dinheiro público façam filme como o da Bruna Surfistinha”.
“Bruna Surfistinha é um filme com olhar humano sobre um assunto relevante e presente na vida das pessoas. Seu impacto poderia até ser medido por números: mais de 2 milhões de pessoas assistiram ao filme somente nos cinemas. Mais outros milhões, na TV. Um filme que empregou 500 pessoas diretamente, pagou milhões em impostos, gerou receita para o Governo e foi premiado na Academia Brasileira de Cinema”, afirmou Baldini.
De acordo com ele, “o filme ajudou a fortalecer a indústria audiovisual e foi recompensado com o interesse do público, que assim se aproxima do cinema brasileiro”. “Bruna Surfistinha é um filme do qual me orgulho. A diversidade é uma das belezas da humanidade e a cultura, sua expressão. O cinema não pode se reduzir a uma ou outra visão de mundo, pois isso nos limita como gente, como povo.”
Deborah Secco
Protagonista do filme, que conta a história real da ex-garota de programa Raquel Pacheco, Deborah Secco se disse “triste” e “um pouco chocada” com a declaração do presidente. Em áudio enviado por sua assessoria, a atriz defendeu que é papel da arte colocar temas variados em debate. “A arte tem que ser ampla, abrangente, a gente precisa poder falar sobre tudo, para que, através da arte, consiga debater sobre tudo.”
“Eu fico um pouco chocada de o Bruna Surfistinha ter sido colocado nesse lugar, porque o filme retrata uma história real, né, não só da Raquel, da Bruna, mas de milhares de mulheres que se encontram nessa situação”, continuou. “E o que a gente queria com o filme era debater e falar sobre como a população lida com essa realidade, trazer o debate à tona. A gente não pode pegar um tema que existe, que é super real, antigo, porém muito atual, e esconder, fingir que ele não existe, né? Tampar com uma cortininha e não falar sobre isso.”
Deborah também disse ter orgulho do longa. “Eu sou muito orgulhosa desse filme, ele me trouxe uma nova visão sobre essa realidade. Espero que tenha trazido para várias outras pessoas que o assistiram”, afirmou.