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Bibliotecas dos EUA têm onda de censura a livros sobre gays, sexo e negros

Obras de autoras como Toni Morrison e Alison Bechdel vêm sofrendo tentativas de banimento por parte de pais e grupos conservadores

Por Marcelo Canquerino Atualizado em 1 dez 2021, 18h09 - Publicado em 26 nov 2021, 11h16
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  • As bibliotecas e escolas dos Estados Unidos estão passando por uma intensa onda de censura de livros este ano. Os alvos são obras que, em sua maioria, trazem temáticas raciais e LGBTQIA+. De acordo com a American Library Association (ALA), maior e mais antiga associação de bibliotecas do mundo, houve um grande aumento nas tentativas de banir livros em bibliotecas — movimento alimentado, acredita-se, por campanhas conservadoras organizadas. 

    No ano passado, a ALA relatou mais de 273 tentativas de banir ou contestar livros. A instituição prevê que o número será consideravelmente maior em 2021. “Nunca tivemos um momento em que recebêssemos quatro ou cinco relatórios por dia durante dias a fio, às vezes até oito em um dia”, contou Deborah Caldwell-Stone, diretora da ALA, ao jornal inglês The Guardian

    Em um distrito no sul da Pensilvânia uma longa lista com livros quase inteiramente sobre pessoas de cor de autores prestigiados como Jacqueline Woodson, Ijeoma Oluo e Ibram X Kendi foram proibidos. Enquanto isso, no Kansas, Fun Home: Uma Tragicomédia em Família, livro de memórias que aborda sexualidade e relações familiares, escrito por Alison Bechdel, foi retirado das prateleiras. Em Utah, o livro O Olho Mais Azul, de Toni Morrison, foi removido das bibliotecas escolares por conter “conteúdo explícito”. Com a mesma justificativa, outro título da autora vencedora do Prêmio Nobel, Amada, foi contestado na Virgínia. Ambas as histórias abordam temas referentes à escravidão e à comunidade negra americana.

    No condado de Spotsylvania, na Virgínia, pais protestaram contra a disponibilidade de livros de temática LGBTQIA+ para crianças — um membro do conselho escolar, inclusive, pediu que “livros ofensivos” fossem queimados. “Acho que vivemos em um mundo agora em que nossas escolas públicas preferem que as crianças leiam sobre pornografia gay do que sobre Cristo”, disse ele. Mais tarde, o conselho ordenou que os títulos “sexualmente explícitos” fossem retirados das bibliotecas do distrito.

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    De acordo com Caldwell-Stone, as principais organizações conservadoras de base que estão por trás desse movimento são a Heritage Action, a Heritage Foundation e a Family Policy Alliance. “Quando você tem organizações como estas que publicam materiais que instruem os pais sobre como contestar livros de bibliotecas de escolas ou de bibliotecas públicas, você está vendo um desafio aos nossos valores democráticos de liberdade de expressão, liberdade de pensamento e liberdade de crença.” Outra preocupação da diretora da ALA está no fato de que autoridades eleitas pela população estão se envolvendo nessa agenda de censura. Ela cita, como exemplo, as declarações de governadores do Texas e da Carolina do Norte sobre limpar a pornografia das bibliotecas escolares — sem ao menos explicarem o que querem dizer com isso. 

    Na contramão, os bibliotecários têm se posicionado contra as tentativas de banimento de livros que vêm surgindo. Na semana passada, o conselho escolar de Spotsylvania votou para rescindir a ordem de censura de livros “sexualmente explícitos”. Em setembro, a decisão de banir livros no distrito escolar de Central York, na Pensilvânia, foi revertida após protestos generalizados. “Estamos vendo a censura para impor agendas específicas, representando determinadas crenças políticas ou religiosas. É realmente desanimador”, finalizou Caldwell-Stone. 

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