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Bibi Perigosa da vida real: ‘Entrei nessa vida por amor’

Celebridade na Rocinha pelas façanhas de quando atuava no tráfico de drogas, Fabiana Escobar inspirou a personagem de Juliana Paes na novela das 9

Por Luisa Bustamante Atualizado em 21 jun 2017, 19h13 - Publicado em 21 jun 2017, 18h57
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  • Logo no primeiro capítulo de A Força do Querer, a novela global das 9 que estreou em abril, Bibi, a personagem de Juliana Paes, deixa claro: é daquelas mulheres que amam demais – e, de tanto amar, erram muito. Exatamente o traço que Fabiana Escobar, a verdadeira Bibi, destaca em sua forte e expansiva personalidade. Sim, Bibi existe, tem 36 anos, mora na favela carioca da Rocinha, a segunda maior da América Latina, e já teve participação ativa no tráfico de drogas – no entanto, nunca foi presa. “Entrei nessa vida por amor. Não voltaria a me envolver com vagabundo. Mas se me casasse de novo e o marido acabasse no desvio, ficaria ao lado dele”, diz Fabiana, em entrevista a VEJA, no terraço de sua casa na favela, com vista para o mar e dois anexos para acomodar os filhos, Celso, 20, e Dalila, 18.

    Bibi Perigosa, como é chamada, garante que está regenerada da vida de crimes. Vive do aluguel de uma loja e dedica a maior parte do tempo a um grupo de cinema independente da Rocinha, o Rocywood. Mas, durante boa parte dos catorze anos em que foi casada com Saulo de Sá Silva, o Pinga, um dos chefões do tráfico local, sua principal ocupação era cumprir à risca as ordens que ele lhe dava de dentro da cadeia e, assim, tocar o negócio.

    Dessa fase, colecionou fama e um punhado de contravenções, algumas mirabolantes, que relatou no livro Perigosa, bancado por ela e apresentado como obra de ficção. Repetiu a dose em um blog (foi por meio dele que a autora da novela, Gloria Perez, a conheceu, em 2011). “Ela estava escrevendo Salve Jorge, que tinha um núcleo de favela, e Gloria me escreveu perguntando como as mulheres daqui se vestem, se comportam. A partir desse dia, passamos a manter muito contato”, diz. De papo em papo veio a inspiração para a personagem de A Força do Querer.

    Não faltam confusões no currículo da Bibi de verdade. Em uma ocasião, dirigiu do bairro do Rio Comprido, na Zona Central do Rio, até a Rocinha com o carro arriado por um grande carregamento de munição e um disfarce infalível: os dois filhos pequenos, a babá, os cachorros e duas bicicletas infantis presas ao porta-malas. Em outra, recebeu de um fornecedor 30 quilos de maconha estragada e teve de voltar a ele para pedir que a dívida fosse perdoada. “O inútil do meu marido não resolvia p… nenhuma”, revolta-se.

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    Quando Pinga, o marido-traficante, foi preso, a intermediação de Bibi junto ao alto-comando do tráfico o pôs em uma cela especial, afastada das brigas de facções. “Virei uma escrava da situação. Tive de dar meu jeito para praticamente montar uma casa lá para ele. Videogame, fogão elétrico, ar-condicionado. Tudo o que eu ganhava ia para pagar o conforto do maridão”, diz. Ciumentíssima, ameaçou pôr fogo em um salão de beleza onde trabalhava uma mulher que ela desconfiava ter um caso com ele.

    Segundo Bibi, o começo da vida a dois foi dentro da lei. “Nossa rotina era bem organizadinha. Eu estudava para ser professora e fazia salgadinhos para fora. O Saulo era carteiro e cursava o ensino médio à noite. Mas o dinheiro não dava para nada.” Levado por um amigo, seu marido envolveu-se com o tráfico. Em 2005, foi preso e Bibi assumiu as rédeas. Fugiu, foi pego novamente e hoje cumpre pena em Bangu.

    Efusiva, despachada, do tipo que não perde baile funk e pesa nos palavrões, Bibi está vendo a novela e avalia que Juliana, com quem conversou duas vezes por Skype, a incorporou com perfeição. “O jeito dela está igual ao meu, até a maneira de andar p… da vida, com os sapatos nas mãos”, diz. “A única diferença é que ela não taca o sapato em cima dele. Eu tacaria.”

    Reportagem originalmente publicada em 12 de abril de 2017, na edição nº 2525 de VEJA. Aproveite: todas as edições de VEJA Digital por 1 mês grátis no Go Read.

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