Lançado com a promessa de oferecer “o corpo dos seus sonhos, com músculos perfeitos”, segundo a própria descrição, o aplicativo Manly – Editor de Fotos do Homem permite ao usuário alterar imagens, colocar barriga tanquinho, músculos, barba, tatuagens, acessórios e até mudar a cor de pele, do cabelo e dos olhos.
Apesar do compromisso de entregar o corpo perfeito, o software não é unanimidade entre quem já o testou. Na iTunes Store, a loja virtual da Apple, entre as 438 avaliações, a nota geral é de 3,9 num máximo de 5.
Há desde opiniões favoráveis, como a “melhor aplicativo” e “prático e fácil de mexer” até “tem que pagar para usar os recursos” e “lixo, enganoso”, entre aqueles que o desaprovam.
VEJA convidou três humoristas para testá-lo com suas próprias fotos.
“Muito bom o aplicativo. Em vez de malhar, é só arrumar a barriga. É o melhor dos mundos. Nunca mais comer bem. Só editar”, diz Murilo Couto, do elenco do programa The Noite, do SBT.
“Todo aplicativo que mente, eu gosto bastante. Quanto mais aplicativos tiver para enganar os outros, melhor”, diz ele, que pretende usá-lo para editar as fotos de outro software, o Tinder, criado para facilitar encontros e relacionamentos. “Talvez, quando a pessoa o encontrar, veja que é mentira, mas dai já é tarde. Compensa.”
Para o comediante Renato Albani, isso pode aumentar a adrenalina dos encontros agendados pela internet. “Você pode marcar de encontrar a Anitta e chegar lá e encontrar um rapaz parecido comigo”, diz.
Apesar de ser um aplicativo que tem o objetivo de tornar as fotos mais másculas, é possível usá-lo com a finalidade oposta, mexendo no cabelo e deixando os traços mais finos.
Albani afirma que há uma tentativa de as pessoas serem cada vez mais diferentes na internet em comparação com a vida real. “O golpe do Instagram está cada vez maior. Tem que ter um Procon”, brinca.
Na opinião do humorista Ben Ludmer, o “golpe”, inclusive, pode ajudar a ganhar dinheiro, como é o caso daqueles que usam a própria imagem — normalmente bela — para negociar posts nas redes sociais. “Em tempos de influencers digitais, isso é uma coisa que vende”, diz. “Quem posta muita foto sensualizando pode fazer uma festa. Você tem o Dr. Rey (cirurgião plástico e apresentador de reality show) no bolso”, diz.
Ludmer aprovou o resultado final, um “Peter Pan que virou filho de bicheiro”: “Gostei de pintar o cabelo e de colocar o tanquinho, a tatuagem. O lance de melhorar até a pele, tirar a espinha, afinar o nariz, o rosto, achei incrível”, diz.
Mas Ludmer encontrou dificuldades no uso. “Não tenho noção de como é ter uma barriga tanquinho. Minha estrada não é de paralelepípedo, ela é asfaltada. Não sabia nem onde colocar o negócio.”
Preço da beleza
O aplicativo conta com uma versão de testes gratuita, que pode ser usada por apenas três dias. Com ela, os efeitos são limitados. É possível deixar mais magro, colocar algumas (poucas) tatuagens, mexer na altura e na cor de pele. Na parte do rosto, é possível afinar, colocar barba, mudar penteado, cor do cabelo e dos olhos. Há também algumas opções de acessórios, como modelos de óculos e correntes.
Depois dos dias de testes, o usuário precisa adquirir a versão PRO, que custa 4,99 dólares por mês (cerca de 16,17 reais) ou 35,99 dólares no plano anual (em torno de 116,74 reais). Nela, as opções de edição são maiores. Dá para colocar abdômen definido, peitoral, músculos e há mais opções de tatuagens e acessórios.
“O problema é que o que todo mundo quer é pago, como poder deixar o abdômen trincado”, diz Ludmer. “E eu sou judeu, né? Então, eu vejo qualquer coisa que tenha que pagar e já pulo.”
“Você pode marcar de encontrar a Anitta e chegar lá e encontrar um rapaz parecido comigo”
Renato Albani
Couto avaliou a versão gratuita como “fraquíssima”. “Queria mais coisas de graça. Mas eu acabei de começar. Quem sabe eu pague para pegar um peitinho, um cabelinho, faz uma tatuagem mais legal, uma corrente de ouro. É arriscado, porque esse aplicativo é muito sedutor. Igual crack.”
A dica de Albani, então, é aproveitar os três dias grátis: “Tira muitas fotos e edita tudo de uma vez”. Mas ele adverte o uso com moderação: “Todo mundo está com essa necessidade de ser perfeito. Mas se todo mundo tiver tanquinho, peitoral e tatuagem igual, qual será a graça?”