A escritora francesa Annie Ernaux, de 82 anos, laureada com o Nobel de Literatura, possui uma escrita profunda e fluida, que mistura memórias pessoais atreladas a momentos históricos da Europa, em livros curtos, mas contundentes. Presença confirmada na edição deste ano da Flip, a Festa Literária de Paraty, Ernaux vem ganhando espaço nas livrarias brasileiras. Responsável pela publicação das obras da autora no país, a editora Fósforo irá lançar, nos próximos meses, as obras A Vergonha, já em pré-venda, e O Jovem, com lançamento marcado para acontecer durante a Flip, entre os dias 23 e 27 de novembro. Confira a seguir três obras essenciais para conhecer a autora:
O Lugar
Livro que alçou Annie à fama, a obra inaugura o gênero desenvolvido por Ernaux e que pautou sua carreira, definido por ela como “autossociobiografia”. Nas obras, ela bebe de memórias pessoais para dissecar a história do mundo e os conflitos humanos. Na trama de O Lugar, tido como um clássico contemporâneo, Ernaux se debruça sobre a vida do pai para escrever sobre relações familiares conturbadas e conflitos de classe, em uma mistura homogênea de história pessoal e sociologia.
Promissora estudante de literatura, Anne Ernaux se desespera diante de uma gravidez indesejada nos anos 50. Com 23 anos, ela busca formas de interromper a gestação e se depara com muitos empecilhos, já que o procedimento era crime na França e podia render punições inclusive a quem a ajudasse. Escrito 40 anos depois, quando ela já era uma das autoras mais respeitadas da França, o livro autobiográfico descreve em minúcias angustiantes a via-crúcis solitária e perigosa de mulheres que optam pelo aborto — o que inclui violência médica e perigosas tentativas clandestinas. A trama inspirou o filme O Acontecimento, da diretora Audrey Diwan, vencedor do Leão de Ouro no Festival Internacional de Veneza de 2021.
Os Anos
Original e ousada, a obra é uma espécie de biografia impessoal de Annie Ernaux. Nascida em 1940, no interior da França, a autora presenciou momentos importantes do país e cresceu ouvindo histórias de guerras passadas. Nas páginas de Os Anos,ela costura suas memórias à história da França, em uma trama que retrata de forma sensível e original seu próprio tempo. Pela prosa típica da autora, vê-se passar seis décadas de acontecimentos, nas quais se desenrolaram a Guerra da Argélia, a revolução dos costumes, o nascimento da sociedade de consumo, as principais eleições presidenciais francesas, a virada do milênio, o 11 de setembro e diversas inovações tecnológicas.