Teve Carmen Miranda, Garota de Ipanema, Vrau, casa de favela e MC. Teve muito rebolado em close no telão. A estreia de Anitta em solo europeu, no Rock in Rio Lisboa, neste domingo, 24, para um público de 85 mil pessoas, apresentou a popstar carioca como uma legítima representante da música e dos signos brasileiros.
À primeira vista, vestida como a baiana icônica de Carmen, com brilhos, turbante e plataforma altíssima, depois como gostosona fatal e, por fim, de funkeira carioca, Anitta, cantando em português, inglês e espanhol, enfileirou hits já conhecidos dos portugueses: “Bang”, “Loka”, “Downtown”, “Sua Cara”, “Paradinha” e “Vai Malandra”.
“Vocês não sabem a dificuldade que é chegar até aqui. Nunca fui tão bem recebida num lugar em toda a minha vida. Quando comecei a cantar, ninguém acreditava que eu ia chegar lá. É um dia histórico para todos os funkeiros do Brasil, quero que todos se sintam representados. Eu prometi que ia fazer o funk ser conhecido em todos os lugares”, disse a cantora carioca.
Na sequência, ela leva ao teatro Trianon, em Paris, e ao Royal Albert Hall, em Londres, o show Made in Brazil, pensado especialmente para essa vinda à Europa pelo recém-contratado diretor Rodrigo Pitta. “Anitta é a garota de Ipanema de 2018, e a artista com mais potência no exterior desde Carmen Miranda”, definiu Pitta ao explicar o conceito do espetáculo.
Escolhido por ele para integrar a apresentação, o hino bossanovista de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, talvez a canção brasileira mais conhecida no mundo, foi só uma introdução para “Will I See You”, sucesso de Anitta do ano passado.
“O funk está num momento como o que a bossa nova viveu, de ganhar o mundo. O funk namora o reggaeton, o rap, o hip top. Anitta já é internacional, vai ser jurada do The Voice no México, onde ganhou prêmio da MTV de música do ano, com ‘Downtown’, sem esquecer suas origens”, continuou o diretor.
Antes do show, em que dançou rodeada por 22 bailarinos e fez três trocas de roupa, ela se dizia ansiosa, querendo que o tempo passasse mais rápido. Numa entrevista rápida uma hora antes de subir ao Palco Mundo, ela anunciou que a partir de agora só gravará em inglês e espanhol; para o mercado brasileiro, investirá nas músicas com parceiros, como já vem fazendo.
No show, o bloco das “features” foi extenso, com “Você Partiu Meu Coração” (parceria com Nego do Borel e Wesley Safadão), “Romance com Safadeza” (outra parceria com Safadão e com direito a um clipe gravado com o marido, Thiago Magalhães, os dois aos beijos sensuais), “Loka” (com Simone e Simaria), entre outras.
A menina Larissa, de Honório Gurgel, subúrbio do Rio de Janeiro, não acreditaria que um feito como Made in Brazil seria possível. Aos 25 anos, Anitta (nome artístico que adotou no começo da carreira) enfeitiçou a plateia desde a abertura do show, com “Bang”, até o encerramento, num cenário representando uma favela e com seu primeiro sucesso nacional, “Show das Poderosas”.
Os portugueses conheciam boa parte das letras. Se no ano passado seu nome foi pedido pelo público do Rock in Rio e rechaçado pelo festival, dessa vez a cantora carioca atraiu fãs que foram apenas para vê-la, ignorando a atração principal do Palco Mundo, o cantor havaiano Bruno Mars. Grupos de jovens vestiam camisetas customizadas com versos de músicas e a provocação que ela costuma fazer, repetida novamente neste domingo: “Vocês pensaram que eu não ia rebolar minha bunda hoje?”
Em entrevista antes do show, o presidente e idealizador do festival, Roberto Medina, disse que o fenômeno Anitta deve repetir o de Ivete Sangalo – a cantora baiana estreou no festival em Lisboa em 2004, na primeira edição portuguesa, e voltou em todas as sete edições, consagrada aos ouvidos lisboetas (Ivete canta no próximo domingo, 30).
“Ivete era pouco conhecida aqui quando chegou, e encantou. Anitta está num excelente momento, vai ser a próxima Ivete. Ela é um volante adiantado no Brasil. Está fazendo um investimento de marca. Era uma obrigação trazer, independentemente se a música está em linha com o ‘mood’ do Rock in Rio”, afirmou Medina, negando que a tenha preterido na edição 2017, no Rio, quando o público pediu que ela substituísse Lady Gaga (a cantora cancelou o show na véspera, por problemas de saúde). Quem entrou em seu lugar foi o Maroon 5, já escalado, e que dobrou a dose.
“Eu nunca disse que não gosto de funk, não sei de onde veio aquilo. Não é meu estilo de música, mas interfiro muito pouco nas escolhas (dos artistas que vão cantar). Para um projeto mainstream, são muito poucos os que põem 100 mil pessoas (de frente para o Palco Mundo)”, explicou.
Medina contou que esta edição está sendo acompanhada por alemães e indianos, que querem levar o Rock in Rio para seus países. Por sua vez, ele não desistiu de fincar sua bandeira em Buenos Aires, de onde foi espantado pela crise econômica local, e nos Estados Unidos (a edição em Las Vegas em 2015 não teve o resultado esperado).