O soft power da Coreia do Sul vem se propagando com afinco. Símbolo dessa efervescência cultural é o sucesso dos grupos musicais de k-pop, sobretudo o BTS, fenômeno inquestionável ao redor do mundo. Apesar de ter entrado em hiato até 2025 — tempo necessário para que todos os membros cumpram o serviço militar obrigatório no país — a banda continua tendo efeito expressivo sob uma legião de fãs: tudo o que os garotos vestem, escutam ou leem vira referência para os admiradores, colaborando ainda mais para a disseminação da cultura do país asiático. Exemplo disso é o livro Amêndoas, da também sul-coreana Won-pyung Sohn, trama juvenil que virou hit no país de origem e logo ganhou notoriedade fora dele graças a dois membros do grupo, RM e Suga, que foram vistos com o título em mãos no reality show In the Soop. Amêndoas passou a ser comercializado com o rótulo de “livro recomendado pelo BTS” em países como o Brasil — onde foi publicado em março pela Rocco, e já figura entre os livros mais vendidos na lista publicada por VEJA.
A trama acompanha o jovem Yunjae, nascido com alexitimia, uma condição neurológica que o impede de identificar e expressar sentimentos. Enquanto as crianças ao seu redor crescem e aprendem a interagir com o mundo e os desafios cotidianos, o garoto mantém um semblante impassível no rosto, incapaz de sentir medo, tristeza ou raiva. Por isso, é considerado um “esquisitão” pelos colegas de escola, amparado e orientado somente pela mãe e pela avó — até que um trágico incidente obriga o então adolescente Yunjae a sair de sua zona de conforto e conviver com novas pessoas.
Delicado e divertido, o livro cativa a partir do olhar altamente sincero do jovem narrador, que muito se assemelha ao também excluído August Pullman, de Extraordinário, outro best-seller infantojuvenil. Há ainda uma atmosfera semelhante a dos doramas — ou k-dramas, as novelas do país, que hoje bombam na Netflix: a narrativa contempla vivências árduas da existência humana, equilibrando com ensinamentos e reflexões sobre amor, amizade e resiliência.
Publicado originalmente em 2016, Amêndoas faturou o Prêmio Changbi de Ficção para Jovens Adultos na Coreia do Sul. Trata-se do romance de estreia da diretora e roteirista de cinema Won-pyung Sohn. A autora é, por assim dizer, representante da vertente infantojuvenil de uma leva de nomes femininos da literatura asiática que ganharam notoriedade para fora da região nos últimos anos, a exemplo das sul-coreanas Min Jin Lee, autora de Pachinko, e Han Kang, de A Vegetariana.