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Afinal: para que serve o esperanto?

Até o dia 1º de agosto, cerca de 2.000 esperantistas (nota: especialistas no idioma esperanto) estarão reunidos em Białystok, na Polônia, para o 94º Congresso Universal da língua. Além de pretender incentivar a prática, o evento lembra os 150 anos do nascimento de Ludwik Lejzer Zamenhof (1859-1917), criador do idioma construído a partir da estrutura […]

Por Cecília Araújo
Atualizado em 5 jun 2024, 21h22 - Publicado em 23 jul 2009, 17h38
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  • Até o dia 1º de agosto, cerca de 2.000 esperantistas (nota: especialistas no idioma esperanto) estarão reunidos em Białystok, na Polônia, para o 94º Congresso Universal da língua. Além de pretender incentivar a prática, o evento lembra os 150 anos do nascimento de Ludwik Lejzer Zamenhof (1859-1917), criador do idioma construído a partir da estrutura de outros e imaginado para se tornar moeda universal na comunicação humana – papel ocupado pelo inglês.

    Nem de longe o esperanto alcançou o objetivo. Estima-se que cerca de 1 milhão de pessoas, espalhadas em cem países, falem o idioma. É menos gente do que a população da cidade de Campinas, no interior paulista. Diante disso, cabe perguntar: quem ainda se interessa pelo esperanto? Para que, afinal, ele serve?

    VEJA.com ouviu Lucas Vignoli Reis, um campineiro de 25 anos, que domina o esperanto. Eis uma prova viva de estudante beneficiado pelas oportunidades que o idioma pode criar hoje. Aluno de física na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Reis viveu seis meses na Europa graças à língua de Zamenhof: correu nove países, hospedou-se na casa de outros esperantistas e fez amigos – tudo de graça. “Grande parte dos encontros entre os jovens vira festa mesmo, com danceteria e tudo”, conta. Ele conclui também que o velho sonho de um idioma unir o mundo pode estar morrendo, juntamente com esperantistas mais velhos e idealistas. Contudo, ainda há algo a alimentar os jovens praticantes: “Nossa vontade é muito mais curtir a língua do que sustentar o movimento”. Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

    Alguém ainda acredita que o esperanto vai se tornar a língua universal?

    Os esperantistas mais velhos são mais idealistas. Muitos se preocupam realmente com o ideal da “língua franca”. Já os mais jovens são um pouco menos esperançosos, mas acham que a língua vale a pena por outros motivos, principalmente pelas pessoas que conhecem no mundo todo. Nossa vontade é muito mais curtir a língua do que sustentar o movimento. Mesmo assim, faço questão de divulgar, pois acredito que, de toda forma, a língua traz benefícios às pessoas.

    Como foi a experiência de viajar a Europa falando esperanto?

    Não imaginava que o esperanto pudesse me levar a viajar pelo mundo. Quando descobri essa perspectiva, me entusiasmei. Decidi escrever uma monografia para um concurso da Liga Brasileira de Esperanto: acabei ganhando a viagem e fiquei mais de seis meses dando um giro pela Europa. Fui à Alemanha, França, Espanha, Itália, Suíça, Suécia, Polônia, Dinamarca e Áustria. Em todos os lugares que visitei, esperantistas me hospedaram de graça e me trataram como se eu fosse um hóspede. Na Europa, eles são muito acostumados a receber jovens esperantistas/mochileiros. Existe um espírito de acolhimento e proximidade entre quem fala esperanto no mundo todo. Isso faz com que você conheça outras culturas mais de perto, vivendo um pouco do cotidiano das pessoas de cada lugar.

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    Você participa de congressos e encontros?

    Já participei de três congressos no Brasil (Campinas, Rio de Janeiro e Juiz de Fora) e outros eventos esperantistas na Alemanha, Itália, Holanda e Polônia. Em geral, os congressos são diurnos e têm palestras sobre a língua na programação. Mas grande parte dos encontros entre os jovens é diferente: vira festa mesmo, com danceteria e tudo. Alguns encontros nem têm programação: a ideia é ficar junto e conversar em esperanto. Um dos eventos mais legais de que já participei ocorreu em um castelo alemão, onde havia 200 pessoas, todas com menos de 30 anos. A maioria eram europeus, mas também havia gente do Japão, China e alguns brasileiros. Foram sete dias de festa, falando esperanto o tempo todo: era a língua comum ali. O mais legal é que ela deixa todos num mesmo patamar, pelo esperanto não ser o idioma nativo de ninguém.

    Qual o benefício de se aprender o idioma?

    Quando você aprende o esperanto, o mundo se abre: você passa a ter amigos ao redor do mundo todo. Antes de estudar esperanto, eu já falava inglês, o que é fundamental, sem questionamentos. Mas a relação entre as pessoas que sabem a língua não é a mesma. Se você fala inglês e conhece outra pessoa que também fala, ok, mas dificilmente se começa uma amizade a partir daí, pelo fato de terem o idioma em comum. Com o esperanto é diferente, talvez porque, pelo menos atualmente, você não estuda a língua por necessidades práticas. Você aprende porque acredita nela, porque tem um ideal de compreensão humana entre os povos. Então, se encontra uma outra pessoa que fala esperanto, sabe que ela também divide esse mesmo ideal.

    Mas você usa o esperanto no dia-a-dia?

    Leio bastante traduções do chinês. Não é tão fácil encontrar livros chineses em português, e o estilo deles dentro do esperanto é diferente do brasileiro, acho muito bonito. Eles são mais sintéticos, fazem frases menos complexas, mas carregadas de significado. Algumas vezes, prefiro ler em esperanto mesmo livros que já foram traduzidos para o português, porque, pelo fato de a tradução ser feita por uma pessoa do país de origem, ela traz muito do estilo de pensar do original. Também leio sempre a Wikipedia em esperanto e escuto algumas bandas que cantam na língua, como o francês JoMo e o holandês Kajto.

    Então, você incentiva outras pessoas a aprender esperanto?

    Estou ensinando minha mãe. Minha irmã também sabe um pouquinho. É muito comum, quando um da família começa, o restante ir atrás. Aconselho que todo mundo faça pelo menos seis meses de esperanto, para ficar mais ágil no aprendizado de outras línguas. Existem estudos que comprovam essa agilidade: eu posso dizer pela minha própria experiência, ao aprender italiano.

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    É uma língua fácil de se aprender?

    O aprendizado do esperanto é bem mais simples do que o de qualquer outro idioma. Você consegue chegar a um nível avançado muito rapidamente, a ponto de conseguir bater um papo fluentemente ou ler um texto sem usar o dicionário. Isso faz com que você tenha mais poder nessa língua do que em outras. Em um ano eu já estava nesse nível, enquanto no inglês, mesmo depois de dez anos de estudo, ainda não me sinto tão à vontade. Claro que não se aprende esperanto como mágica: requer o mínimo de esforço e aplicação no início. Mas logo você se sente seguro, pois entende que pode usar sempre da lógica, sem correr o risco de errar a estrutura das frases, como acontece em outras línguas que dependem de fatores culturais.

    A internet ajuda a atrair novos adeptos?

    Conheço bastante gente que aprendeu esperanto pela internet e criou amizades internacionais assim. Essas pessoas não estão ligadas ao movimento esperantista tradicional e, imagino, não têm pretensões maiores com a língua. Mesmo assim, se interessam por ela. Além de proporcionar esse primeiro contato com o esperanto, a rede também facilita a comunicação entre os esperantistas, pois eles estão espalhados por vários países distantes, e a internet é um espaço internacional. É a forma que temos de manter os laços fortes: por Skype, MSN, Facebook etc.

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