A escritora Roseana Murray, atacada brutalmente por três pitbulls no início de abril em Saquarema, no estado do Rio, concedeu uma entrevista ao Fantástico neste domingo, diretamente do hospital, e relembrou detalhes do dia do ataque. Segundo ela, sua vida foi salva graças a um maratonista que passava pelo local. “Eu fiquei gritando por socorro, mas não passava ninguém porque eu estava indo pra academia, às 6h da manhã. A pessoa que me salvou era um rapaz que corria na praia”, revelou a autora, de 73 anos. O nome da escritora aparece entre os assuntos mais pesquisados no Google Trends, com mais de 5 mil buscas.
Ultramaratonista, Eduardo Neves treinava na região do bairro de Gravatá quando viu os cachorros atacando Roseana. “Eu já fui com um cabo de vassoura pedindo pra eles saírem, só que os cachorros saíam dela e vinham pra cima de mim. Eu subi em um muro e do nada veio um carro de passeio e os caras jogaram o carro pra cima dos cachorros”, descreveu o corredor, que conseguiu prender os animais de volta na casa da qual haviam fugido e chamar os bombeiros para socorrer Roseana.
A escritora foi levada de helicóptero para o hospital, e chegou em estado grave. Os médicos tiveram de amputar seu braço direito, e ela também teve lesões graves na face e no braço esquerdo. Diante da gravidade, os filhos chegaram a se preparar para o pior. “Falei para ela, se você estiver cansadinha, quiser fechar os olhinhos e partir, fica tranquila que a gente está aqui com você”, relembrou o caçula, Guga Murray. “Com o sopro de voz que ela conseguiu emitir, ela falou: ‘Eu quero viver’.”
Passado o momento mais crítico, Roseana segue no CTI, mas sua recuperação tem surpreendido. A escritora está lúcida, bem disposta e as cicatrizes têm evoluído bem. “Ela não tem um roxo, não tem nenhuma parte inchada, não tem sangramentos. Todos os indicadores dela são melhores do que os médicos poderiam imaginar”, disse o filho.
Já de volta às redes sociais, em que sempre foi ativa, Roseana comparou os cães que a atacaram ao mito de Cérbero, a besta que, segundo a mitologia grega, guarda os portões do submundo. “Os três cachorros que me atacaram pareciam Cérbero, o cão de três cabeças prontas para me levar para a morte. Não conseguiram. Estou viva, mas como no livro que lemos no Clube da Casa Amarela, Escute as Feras, de Nastassja Martin, a história da mulher que foi atacada por um urso, lutou e venceu, e no final, é uma mulher meio humana meio ursa, eu também me sinto meio humana meio mulher selvagem, porque venci”, atestou ela, que planeja agora um sarau de poesia para presentear a equipe médica com livros de sua autoria autografados com a mão esquerda.