Supermax, a série da Globo sobre um sombrio reality show realizado em um presídio de segurança máxima no meio da Amazônia, não deixou muita saudade e não se sabe se terá uma segunda temporada, mas nesta terça-feira ganhou um rápido revival em A Força do Querer. A sequência em que a golpista Irene (Débora Fallabela) foi perseguida por quase todos os seus rivais na desoladora garagem de um edifício desconhecido até despencar no poço de um elevador, teve um clima similar ao da série – um clima bobo de provocar medinho, em tradução direta.
Irene chega ao edifício onde mantém um apartamento secreto e lá, coisa de novela, encontra Eurico (Humberto Martins) e Silvana (Lília Cabral), que estacionam no local depois de um telefonema de Garcia (Othon Bastos), que acaba de saber por Dantas (Edson Celulari) que Irene é na verdade Solange Lima, a mulher que matou seu amigo e ex-marido de Elvira (Betty Faria).
Silvana trata logo de dar umas bolsadas em Irene, mas a arma secreta do casal é mesmo o sobrinho Yuri (Drico Alves), que está de carona com eles, juntamente com dois amigos fantasiados de personagem de anime, a animação japonesa. A molecada começa a assustar Irene como se fizesse parte de um Trem Fantasma de parque de diversões do interior. A golpista que tanto arquitetou maldades a novela inteira cai na brincadeira como uma patinha, se deixa assustar – e surtar. Está certo que gente vestida para cosplay pode dar um susto gratuito nos outros, sem esforço. Mas a reação de Irene é, digamos, sobrenatural.
Em uma sequência patética, ela começa a correr e a gritar “Eugênio”, chamando o nome do ex-amante (Dan Stullbach). Num momento, se senta em uma escada e vê sangue brotar entre as pernas como se tivesse sofrendo um novo aborto – tudo coisa da sua cabeça, como acontecia em Supermax, série que nunca chegou a causar medo de fato.
Débora Fallabela contribuiu para dar algum realismo à cena. A atriz, excelente como sempre, já vinha dando um tom acima à fala de Irene, que parecia descompensada nos últimos capítulos, quando, depois de perder o bebê que esperava de Eugênio, encomendou uma falsa barriga capaz até de tremer para simular um neném mexendo. Ainda assim, o surto de Irene nesta terça foi dez tons acima da média.
O rompimento de Mira (Maria Clara Spinelli) com a parceira de crimes foi a contribuição do texto de Gloria Perez para justificar o surto na garagem: aterrorizada com as atitudes da parceira, a ex-secretária procura o advogado Dantas para contar tudo o que sabe. Ainda assim, é difícil entender por que Mira só reconheceu agora o horror em Irene, que ela já viu inclusive matar uma pessoa.
Como resultado final, ver a maléfica golpista em queda livre e letal até pelo poço de um elevador foi mesmo a melhor parte da cena.