O Brasil mudou desde a primeira temporada. Encaixar Bolsonaro no final da segunda temporada é um recurso para atualizar a trama? Escrevemos a cena do discurso do Bolsonaro na votação do impeachment da Dilma antes de ele ser presidente. Aquele voto (com homenagem ao torturador coronel Ustra) é condenável do ponto de vista ético e moral.
Mesmo assim ele foi eleito. Quem elegeu Bolsonaro foi a esquerda. Antes das eleições, eu disse que três nomes estavam na disputa: Bolsonaro, Haddad e Ciro Gomes. Só Bolsonaro e Ciro, que não tinham ligações com a Lava-Jato, tinham chances. Mas a esquerda decidiu apoiar o Haddad.
O senhor votou no Ciro? Não votei. Não me dei ao trabalho. Estava em Los Angeles. Justifiquei meu voto e olhei a tragédia de longe.
Observando os casos em que o PSL se envolveu até o momento, diria que ele entra no mecanismo da série? A família Bolsonaro nunca teve tamanho político para participar do mecanismo no seu alto escalão. Mas está claro que não recusou aquilo a que teve acesso, que é uma corrupção rasteira. Roubinho de gabinete é igualmente desonesto. Quero saber o que o Moro, que é o esteio moral do governo, vai fazer quando abrirem as contas do Queiroz e ficar explícito o que está implícito.
O senhor já disse que a Lava-Jato não tinha viés político. Ainda acredita nisso? A Lava-Jato não tinha viés político. Moro é outra coisa. Ele saiu de uma luta árdua e admirável contra a corrupção sistêmica e se associou a um governo que tem ligações com a esgotosfera da milícia no Rio. Ou ele não sabia, o que demonstra falta de inteligência, ou ele sabia, e aí vou ter de rever tudo o que sempre achei da Lava-Jato.
A segunda temporada trata o impeachment de Dilma como golpe. Foi isso mesmo? O impeachment foi uma enorme farsa, um golpe. Mas quem deu o golpe? Foi o vice-presidente em que todos os eleitores do PT votaram. Foi um golpe interno de quem estava no poder. Uma quadrilha se fracionou em duas. Não foi a direita que derrubou o governo: foi o MDB que estava associado ao PT. Dilma foi uma tragédia para o Brasil. Se ela foi vítima, é porque se aliou ao Temer. Quem dorme com cobra acorda picado.
Publicado em VEJA de 15 de maio de 2019, edição nº 2634
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