O Grammy 2020 transcorreu pouco antes da pandemia, mas a cantora Billie Eilish, então aos 18 anos, chegou à premiação com uma máscara. Na época, o acessório tinha apenas uma função: complementar o chamativo figurino da garota, que ostentava cabelo preto com raízes verde neon, unhas gigantescas e um conjuntinho largo que a cobria do pescoço aos pés. A americana sairia do Grammy com cinco estatuetas e o recorde de pessoa mais jovem a conquistar as duas principais categorias, álbum e gravação do ano, com seu disco de estreia, When We All Fall Asleep, Where Do We Go?. Mas naquela noite, enquanto se via sob os holofotes, Billie expôs seu desconforto com a fama ao balbuciar para as câmeras, durante o anúncio do troféu de melhor álbum: “Por favor, que não seja eu”.
O episódio ofereceu ao mundo um vislumbre da insegurança que havia por trás da moça de postura altiva — lapidada em clipes performáticos como aquele em que interagia com tarântulas. Coincidência ou não, a partir da fatídica festa do Grammy, Billie foi se despindo (quase literalmente) da personagem que a transformou na mais nova e promissora diva pop. Eis a boa notícia: a crise lhe fez muito bem, tanto musicalmente quanto na postura feminina diante da vida e do sucesso.
A prova disso veio no fim do mês, com a chegada do segundo disco, Happier Than Ever. Se Billie já impressionava pelo talento precoce — ela despontou aos 13 anos —, sua evolução revela-se ainda mais notável. O pop melancólico deu lugar a uma adocicada mistura de jazz, soul e bossa nova, entoada de forma sussurrada e hipnotizante. A maturidade se reflete no público: apesar da pouca idade da cantora, hoje aos 19, a maior parte de seus ouvintes tem entre 18 e 35 anos, segundo estudo da Deezer. A guinada musical vem acompanhada de outra, visual. Este ano, Billie surgiu na capa de uma grande revista de moda com estampa à la Marilyn Monroe. Loiríssima, de lingerie e curvas generosas à mostra, deixou a adolescente excêntrica para ser, nas suas palavras, o que bem entender.
A patrulha da internet a acusou de “ceder aos padrões”. Mas o ensaio não era só uma jogada de marketing para enaltecer o rito de passagem de garotinha para femme fatale. Ao abraçar a feminilidade, Billie curou feridas advindas de uma depressão severa e da insegurança quanto ao próprio corpo. Ser fotografada com roupas ínfimas foi um ato de autonomia, não de vaidade, enfim. Educada em casa pelos pais, a cantora sempre foi tratada como adulta. Aos 13, estourou na plataforma on-line SoundCloud com Ocean Eyes, música escrita pelo irmão Finneas. Seu premiado primeiro disco foi gravado no quarto do rapaz — que hoje, aos 24, se tornou incensado no meio, produzindo artistas como Selena Gomez. Até James Bond se rendeu a Billie: ela é a mais jovem artista a compor e entoar a música-tema da franquia, no ainda inédito 007: Sem Tempo para Morrer. A garota-prodígio agora virou um mulherão completo.
Publicado em VEJA de 11 de agosto de 2021, edição nº 2750
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