Inspire, expire, prenda o ar, faça o “vacuum” e solte a barriga sem estufá-la. As instruções, fundamentos da febre da chamada barriga negativa, quando há cerca de dez anos celebridades e modelos exibiam o abdome chapado, estão de volta neste verão. A proposta da técnica, batizada de Low Pressure Fitness (LPF), é eliminar medidas da cintura com ritmados exercícios respiratórios, sem exigir do praticante esforços gigantescos. Nessa estação, no entanto, o objetivo não é mais alcançar aquele ventre tão para dentro que fazia saltar aos olhos os ossos do quadril e das costelas, como se viu durante a primeira onda. A meta está mais sintonizada com os tempos atuais, nos quais beleza de verdade é a mais natural possível. Isso significa que a silhueta pode ficar lisinha, mas não precisa de tanto exagero.
O LPF, conhecido como abdominal hipopressivo, tem sua origem relacionada com a união de diferentes práticas e surgiu na década de 80. Da ioga, há a inspiração com foco no diafragma, trabalhado por meio do travamento desse músculo tão importante para a respiração. O vacuum, com seu movimento de recolhimento abdominal, não deixa de ser uma versão do Uddiyana bandha, um dos movimentos mais conhecidos da prática oriental. Da fisioterapia veio a contribuição dos exercícios de postura.
Ele ficou famoso no início dos anos 2010, quando a modelo sul-africana Candice Swanepoel, então Angel da Victoria Secrets, surgiu sem um grama de gordura na barriga e creditou à técnica a forma espantosa. À época, houve uma profusão de conteúdo sobre como conquistar a “barriga negativa” e, em meio às dietas e exercícios, lá estava o método que ganhou a mesma alcunha. Nos últimos anos, ao mesmo tempo que ganhava adeptos, multiplicaram-se as investigações científicas sobre suas limitações e benefícios. Por enquanto, a conta está positiva. Diversos estudos demonstram eficácia inclusive em relação a questões não meramente estéticas. Em 2021, o International Journal of Environmental Research and Public Health publicou uma pesquisa com 125 mulheres de 18 a 60 anos que fizeram duas sessões de treinamento de trinta minutos por semana durante dois meses. A conclusão foi a de que o treino melhora a postura e a musculatura do tronco. No mesmo ano, pesquisadores da Universidade de Vigo, na Espanha, verificaram que os exercícios estabilizam a musculatura mais profunda do abdome e reduzem o inchaço na região, o que ajuda a explicar a perda de centímetros de circunferência abdominal após três meses de prática consistente. “Eles funcionam como se fossem uma cinta, só que natural”, explica Carol Lemes, especialista na aplicação do LPF.
Para as puérperas, outro público adepto, as evidências também são animadoras. No pós-parto, algumas mulheres experimentam o afastamento dos músculos abdominais, a diástase. Isso leva a desconfortos e ao enfraquecimento do assoalho pélvico, podendo resultar em escapes de urina. Em 2020, um estudo da Universidade Camilo José Cela, em Madri, demonstrou que dois meses do exercício foram suficientes para reduzir os episódios de incontinência urinária em mulheres com a condição. Foi depois da segunda gravidez que a educadora física Verônica Motta resolveu se aprofundar no treino para tentar reverter a diástase. Deu tudo tão certo que ela se tornou uma especialista. “Combinado a outras atividades físicas e boa alimentação, é um ótimo recurso”, diz. Ressalve-se: desde que não seja visto como instrumento para uma beleza inatingível.
Publicado em VEJA de 1º de fevereiro de 2023, edição nº 2826