A estatística é forte como um latido ou um miado prolongados: mais da metade das casas brasileiras têm ao menos um animalzinho de estimação. São aproximadamente 100 milhões de cães e gatos, quase um para cada duas pessoas, de acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet). Isso faz com que o Brasil ocupe hoje a terceira posição entre os maiores mercados pet do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. No ano passado, a indústria de produtos voltados para os bichos domésticos arrecadou quase 47 bilhões de reais, um crescimento de mais de 10% em relação a 2022. É fenômeno que vem ganhando força há alguns anos e acelerou-se com a pandemia. Por enquanto, não dá indícios de que vá perder fôlego, ao contrário.
A novidade, que veio a galope: a expansão dos planos de saúde veterinários, em tendência irrefreável. A exemplo das coberturas contratadas para humanos, as versões para animais cobram uma mensalidade, que parte de 50 reais e pode chegar a quase 300 reais, de acordo com o limite dos reembolsos (veja no quadro). Os pacotes mais simples incluem cuidados básicos, como consultas, vacinas e exames corriqueiros, como o hemograma. Nos mais caros, são contemplados internações, exames de imagem e consultas com especialistas, como nefrologistas, requisitados especialmente por tutores de gatos, já que os felinos têm maior predisposição a desenvolver doenças renais crônicas. Na maior parte dos modelos há um período de carência e, em geral, é preciso pagar uma coparticipação em cada serviço. Uma consulta particular em São Paulo, por exemplo, custa entre 150 e 200 reais. Pelo plano, pode custar apenas 20 reais.
Nesse cenário, uma das companhias de maior destaque é a Petlove, marca que surgiu no ambiente digital, mas vem expandindo sua atuação. Além da comercialização de produtos na internet e em nove lojas físicas, com mais uma a caminho, a empresa tem o mais popular plano de saúde pet. Hoje, atende mais de 338 000 pessoas… ops, bichos. A rede credenciada tem 5 000 parceiros, entre veterinários, centros de diagnóstico e hospitais. A Petlove tem oferecido descontos para múltiplos animais e planos com carência zero para alguns procedimentos. Com seu modelo de negócios, já atraiu investimentos de grandes fundos, como SoftBank e Monashees, entre outros, e comprou a operação de concorrentes, a exemplo do braço pet da Porto Seguro e do Nofaro. Há, claro, outras empresas. A ComVet aposta em planos sem coparticipação, mas há carência em todos, e ela cobre apenas 50% do valor em procedimentos relacionados a doenças preexistentes. O PlanVet oferece reembolso e descontos em clínicas credenciadas. O Pet Health tem uma variedade maior de planos, todos sem carência, mas os valores mensais são um pouco mais elevados. Virá mais por aí, porque apenas 0,5% dos animais de estimação tem plano.
Há quem faça muxoxo ante a ideia de tratar bicho como gente, mas o bolso não reclama. “Tenho um pet de alta manutenção”, brinca a publicitária Marla Tavares, tutora do yorkshire Loki, de 2 anos. Apesar da pouca idade, ele já deu alguns sustos. “Fiz raio X, ultrassonografia, exame para detectar colapso da traqueia e procedimento para desobstruir o canal da uretra quando ele estava com pedras na bexiga, tudo pelo plano.” Além de cobrir visitas emergenciais ao veterinário, os contratos estimulam os cuidados preventivos, que ajudam a detectar doenças precocemente e reduzir os custos a longo prazo. Contudo, já despontou uma estrada paralela: os tutores têm agendado consultas para check-up dos companheiros de quatro patas, e desse modo acabam usando os planos mesmo sem doença detectada. Logo os donos das companhias seguradoras criarão algum obstáculo, em movimento óbvio e natural.
E, claro, como acontece com os serviços voltados para humanos, é preciso ficar atento. Vários planos têm prazos de carência diferentes para cada tipo de serviço. Consultas podem ser realizadas rapidamente, mas internações, não. Alguns exames mais específicos podem não ser contemplados. E dá-lhe mais uma preocupação para nossa vida de cão.
Publicado em VEJA de 12 de abril de 2024, edição nº 2888