No filme O Curioso Caso de Benjamin Button, de 2008, o ator Brad Pitt foi obrigado a refletir sobre a passagem do tempo. O protagonista nasce com a aparência de um idoso de 80 anos e, em um movimento contrário à natureza, rejuvenesce com o correr dos anos. O longa foi inspirado em um conto escrito em 1922 por F. Scott Fitzgerald. O autor havia ficado impressionado com a história de um menino indiano que sofria de progeria, condição genética rara caracterizada pelo envelhecimento precoce e acelerado. À época do lançamento, Pitt disse que a experiência de representar uma criança com aspecto alquebrado o levou a pensar na decadência física e nas repercussões emocionais que o acompanham. Ele admitiu a estranheza com que se viu nas primeiras vezes em que gravou caracterizado como um velhinho, de cabelos ralos, pele manchada e enrugada e as pálpebras flácidas e caídas.
O ator tinha 45 anos quando fez o filme. Hoje, está com 58. Os cabelos começam a ficar grisalhos, as rugas, profundas e as pálpebras, já um pouco caídas, escondem os famosos olhos azuis. Pois é nessa altura da vida que o astro decidiu lançar uma linha de cosméticos. A razão, segundo ele, é oferecer ao mercado mais uma opção para tratar a cútis tenha ela a idade que tiver. “Não quero fugir do envelhecer. É um conceito do qual não podemos escapar, mas gostaria de ver nossa cultura falando sobre isso de maneira natural”, afirmou. “A ideia de antienvelhecimento é ridícula. O que é real é tratar sua pele de maneira saudável.”
Chamada Le Domaine Skincare, a linha tem como base substâncias antioxidantes extraídas da uva. Elas ajudam a proteger as células de moléculas envolvidas no envelhecimento precoce. Os produtos são feitos em parceria com a família Perrin, proprietária do Château de Beaucastel — uma das mais famosas vinícolas do mundo —, com quem Pitt havia trabalhado em seu próprio vinhedo, o Miraval Côtes de Provence, no sul da França. Todos foram desenvolvidos usando as informações levantadas pelo professor de enologia Pierre-Louis Teissedre, da Universidade de Bordeaux, sobre as treze uvas cultivadas pelos Perrin.
Houve, inclusive, a obtenção de duas patentes: a GSM10, uma molécula que une compostos presentes nas sementes de uvas grenache com as sementes e casca das uvas syrah e mourvèdre, e o ProGR3, derivado do antioxidante resveratrol, encontrado nas gavinhas de videira. Os produtos também possuem flavonoides, outro celebrado composto usado contra a expansão das rugas e a ação do tempo. Os efeitos positivos dessa categoria de princípios ativos são reconhecidos pela ciência. “O benefício é promovido tanto na cútis de homens quanto na de mulheres”, diz a dermatologista Paula Rahal, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
A Le Domaine Skincare foi lançada na França, Reino Unido, Itália, Alemanha, Suíça, Bélgica, Holanda, Luxemburgo e Estados Unidos, com preços a partir de 80 dólares e ainda não está disponível para entrega no Brasil. Pitt está otimista quanto ao empreendimento. Até porque, diz o ator, ninguém melhor do que ele para ser o garoto-propaganda. “Se eu não tivesse visto diferença real na minha pele, não teria me envolvido”, diz. Ele está sendo sincero, mas convém acompanhar o lançamento com algum cuidado — afinal, é também uma jogada de marketing do bem.
Publicado em VEJA de 5 de outubro de 2022, edição nº 2809