O desenvolvedor de games americano Chance Glasco é um dos grandes nomes da indústria. Como cofundador do estúdio Infinity Ward, participou da criação da franquia Call of Duty, sinônimo de games de tiro em primeira pessoa. Como responsável pela animação das armas, trabalhou para oferecer realismo tanto em jogos ambientados em períodos históricos, como a Segunda Guerra, quanto em cenários mais atuais. Depois de anos dedicado ao formato, decidiu mudar de ares. Hoje, é diretor de criação do Good Dog Studios, cujo foco é em simuladores. O primeiro título, Martial Arts Tycoon: Brazil, deve sair apenas no ano que vem, mas os primeiros detalhes serão divulgados na sexta-feira (30), no BIG Festival, evento de games com foco em negócios que abre hoje para o público.
Em entrevista a VEJA, Glasco falou sobre o novo título. “Eu já estava um pouco esgotado de trabalhar em jogos de tiro em primeira pessoa, como você pode imaginar, e precisava criar algo novo”, conta o desenvolvedor. A decisão de optar por simuladores veio naturalmente depois que ele passou um período explorando alguns dos clássicos do gênero, como RollerCoaster Tycoon, Two Point Hospital e RimWorld, entre outros.
O tema, as artes marciais, também vieram naturalmente. “Eu nunca fui um cara esportivo, mas conheci o jiu jitsu meio por acaso e fiquei muito interessado. É quase como a gamificação de um esporte. Além disso, ele realmente é útil como forma de defesa pessoal”, conta Glasco. O desenvolvedor chegou a morar alguns anos no Brasil, inicialmente no Rio de Janeiro, perto da Glória, uma área menos turística da cidade, e depois em São Paulo, no bairro de Moema. Juntou tudo e o resultado é Martial Arts Tycoon: Brazil.
Até agora, foram divulgadas apenas algumas poucas imagens do game. Glasco evita entrar em detalhes, mas queria fazer um jogo centrado em artes marciais que não fosse apenas uma questão de apertar sequências de botões. “Existem jogos populares sobre temas como hospitais. Já o jiu jitsu já atrai muita gente, é acompanhado por fãs na TV. Me surpreende que esse jogo não tenha sido feito ainda”, afirma. Será possível desenvolver o lutador e sua academia, acompanhando-o desde o início de seu treinamento até o estrelado em grandes octógonos.
Para criar o game, houve uma preocupação e não retratar o Brasil de forma estereotipada como tantos outros títulos anteriores. Glasco revela que trabalhou com consultores, conversou com amigos e usou a própria experiência vivendo no país para criar um ambiente que refletisse a realidade local. Também convidou o lutador Ricardo Libório, cofundador do Brazilian Top Team (grupo que teve Vitor Belfort entre seus atletas), como consultor de artes marciais.
Acostumado a trabalhar com grandes equipes em Call of Duty, título que faz parte da seleta lista das superproduções conhecidas como triplo A, Glasco afirma que a principal diferença é conhecer de perto cada integrante do time. “Às vezes, quando se trabalha com mais de 50 pessoas, você não tem contato direto com várias delas”, diz. A equipe, composta por profissionais de diversas regiões do mundo, tem brasileiros. “Eu procurei por talentos do Brasil. Porque você pode pagar uma quantia capaz de mudar a vida de alguém, sendo justo na remuneração, e ainda assim economizar em relação a outros países. Muitas empresas tentam se aproveitar disso sem fazer algo significativo”, afirma.