Uns querem residir na Lua, outros já sonham com Marte e há quem compre terrenos no metaverso, seja lá o que isso signifique. O início desta terceira década do século XXI tem sido marcado pela transformação nas formas de morar impulsionada pelo desejo de fugir de metrópoles caóticas e encontrar em algum ponto do planeta um cantinho menos estressante para viver. Anseio, aliás, intensificado na pandemia.
E de repente, atrás de máscaras e com medo, muita gente deixou as cidades rumo a lugares onde os riscos de infecção pelo vírus são comprovadamente mais baixos. Enquanto ainda não é possível ir de foguete para casa, contudo, dá para ser menos ambicioso e começar a pensar em chegar ao doce lar de barco. E nem é preciso morar numa ilha. Basta — eis aí uma boa novidade — viver em construções de design futurista projetadas para boiar no oceano.
A oferta é da Ocean Builders, empresa baseada no Panamá especializada em tecnologia marítima. A companhia pôs à venda na segunda-feira 22 módulos residenciais com 73 metros quadrados cada um idealizados para ficar 3 metros acima da água e permitir ao morador uma vista de 360 graus. Batizado de Seapod, o empreendimento foi desenhado pelo arquiteto holandês Koen Olthuis, reputado por projetos de moradas flutuantes na Holanda e nas Maldivas.
As casas deverão ser instaladas próximo da Marina Linton Bay, no Panamá. Com três patamares, elas serão equipadas com os acessórios necessários para não deixar os residentes na mão no que se refere a confortos básicos, como água potável e quente, luz e, claro, o indefectível delivery — há um ponto de pouso de drones no teto. A Ocean Builders promove o Seapod como uma boa solução para conciliar planejamento urbanístico com proteção ambiental em meio às mudanças climáticas. “Olthuis, o arquiteto, é especializado na solução de problemas gerados pela urbanização e pelas alterações do clima”, disse a VEJA Grant Romundt, CEO da companhia. “Com essa expertise e nossa experiência tecnológica, ofereceremos estruturas sustentáveis.” A empresa promete que, além de recursos como painéis solares e reciclagem de água, haverá um sistema de transporte de mercadorias que seria usado também na limpeza das águas.
Ter direito a um CEP no mar custa de 275 000 a 1,5 milhão de dólares, de acordo com o luxo desejado. As vendas estão indo bem e as primeiras 100 casas serão entregues no ano que vem. Lá onde a terra se acaba e o mar começa, como escreveu o poeta Luís de Camões.
Publicado em VEJA de 7 de setembro de 2022, edição nº 2805