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Carta ao Leitor: A beleza das diferenças

A diversidade é inegociável. Contudo, e como constatação de que o ser humano é complexo, a bandeira de direitos justíssimos produziu exageros

Por Da Redação Atualizado em 4 jun 2024, 09h28 - Publicado em 16 fev 2024, 06h00
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  • VOZES - O sonho do reverendo Martin Luther King, o grito por igualdade das mulheres no fim dos anos 1960 e a passeata LGBTQIA+ de São Paulo: movimentos necessários
    VOZES - O sonho do reverendo Martin Luther King, o grito por igualdade das mulheres no fim dos anos 1960 e a passeata LGBTQIA+ de São Paulo: movimentos necessários (Robert Abbott Sengstacke/Bettmann/Tiago Mazza Chiaravalloti/Getty Images)

    O preconceito — atalho para o radicalismo e o autoritarismo, chagas da humanidade — foi sempre um capítulo trágico na história da civilização. Na trilha do tom de superioridade, como se uns fossem melhores do que outros, os grupos majoritários impuseram ao longo dos séculos a mão de ferro contra os minoritários, em jogo permanente de poder. É longa a lista de classes instadas a ficar quietas, caladas, à margem da sociedade: os negros, os homossexuais, as mulheres… A visão de mundo hegemônica dos que têm poder representou, desde sempre, o caminho mais curto para a opressão, as guerras e os genocídios — alguns evidentes, outros silenciosos, mas igualmente perniciosos.

    Da ruína moral, depois de séculos de manutenção das coisas como elas são, brotaram nos últimos anos bandeiras saudáveis que fizeram mover as placas tectônicas. Nos anos 1960, as mulheres saíram às ruas exigindo isonomia com os homens, de sutiã em mãos. Os movimentos pelos direitos civis, nos Estados Unidos, iluminaram a dor contida e o pedido de espaço dos negros, que, na voz de Martin Luther King, tinham um sonho. Mais recentemente, como resposta ao assédio sexual dos tubarões de Hollywood contra as atrizes, surgiu o #MeToo, denunciando agressões. Novas legislações, inclusive no Brasil, autorizam o casamento homoafetivo. Nesse aspecto, o da grita contra as injustiças e os abusos, em nome de igualdade, simples assim, o mundo melhorou — embora a estrada ainda seja longa e sinuosa.

    Celebrem-se, portanto, a inteligência e a força de quem se mexeu para brigar, fazendo andar a roda da sensatez. A diversidade é inegociável, como bem vimos no Carnaval. Contudo, e como constatação de que o ser humano é complexo, demasiadamente complexo, a bandeira de direitos justíssimos produziu exageros — e, em alguns casos, fez com que os defensores de boas posturas se comportassem como as pessoas a quem acusam, de dedos em riste, em patrulha multiplicada. Não é fácil, mas convém estar atento às fronteiras — até onde devemos ir? — das necessárias posturas politicamente corretas, que apontam caminhos e sugerem inclusive um modo diferente de usar as palavras (e não é o caso de temê-las ou desdenhá-las).

    Nos Estados Unidos, o termo woke (passado do verbo acordar, despertar) nasceu no seio da comunidade afro-­americana, em vigília contra a injustiça racial. Trata-se, portanto, em sua origem, de expressão cultural criada para ampliar o questionamento das normas opressoras historicamente impostas pela sociedade. Não demorou, contudo, para que o woke fosse adotado pelo outro lado, em forma de acusação — para essa turma conservadora, woke descreveria os supostos hipócritas que acreditam ser moralmente superiores e querem impor suas ideias progressistas aos demais. E então, de um rastilho fundamental e correto — o não ao racismo —, brotou o quase oposto, como se a defesa do direito de viver engendrasse um outro tipo de hegemonia, em conflito de versões intransigentes. Não pode ser assim. A sabedoria é não transformar o outro em inimigo, aceitar o diferente sem ódio e polarização — e não erguer na compulsória luta contra a discriminação um outro muro intransponível.

    Publicado em VEJA de 16 de fevereiro de 2024, edição nº 2880

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