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A curiosa história do vinho “esquecido” que se tornou ícone do Alentejo

Conhecida pela sustentabilidade, a Casa Relvas é hoje uma das maiores vinícolas da região e produz mais de 7 milhões de garrafas por ano

Por André Sollitto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 7 jun 2024, 12h58

Não é todo dia que um vinho “esquecido” nas barricas, no fundo de uma adega, se revela tão especial. O produtor português Alexandre Relvas, da vinícola Casa Relvas, no Alentejo, havia decido fazer um grande vinho elaborado com a casta Arinto, tradicionalmente usadada nos brancos com potencial de envelhecimento. Separou a colheita de 2017 para uma série de testes, com barricas de carvalho diferentes. “Testamos algumas da Borgonha, outras de Bordeaux, algumas com carvalho americano”, conta Relvas. “Fizemos diversas provas ao longo dos meses, até que outras demandas, como a preparação para uma nova vindima, fizeram com que não déssemos o seguimento correto às ensaios”. Foi só meses depois, durante o processo de elaboração de outro vinho, que as barricas daquele branco reapareceram. Ao provar aquelas guardadas em barris da Borgonha, Relvas percebeu seu potencial. Foi assim que nasceu o Esquecido. Em 2019, foi eleito o melhor vinho branco do Alentejo pela prestigiosa revista portuguesa Grandes Escolhas. E, agora, a nova safra, 2022, acaba de chegar ao mercado brasileiro.

As uvas são provenientes de um único vinhedo de quatro hectares, localizado junto a uma ribeira, com solos de xisto. “A Arinto lá produzida é muito especial, e dependemos do que o vinhedo nos dá aquele ano”. Em 2022, recorde de produção, foram feitas 27 mil garrafas. No ano anterior, foram apenas nove mil. “Engarrafamos o que a natureza nos dá”, diz Relvas. A fermentação é iniciada em uma cuba de inox, para garantir a padronização, mas depois continua em barricas. O vinho fica entre 16 e 18 meses em carvalho, sempre barricas novas, mas que passam por um processo que reduz o sabor aportado pela madeira na bebida.

O Esquecido faz parte do topo de gama do portfólio da Herdade de São Miguel. Entre os tintos, um dos mais importantes é o Pé de Mãe, elaborado principalmente com a variedade Trincadeira, conhecido por sua potência e pela consistência com que recebe boas avaliações da crítica. Mas a vinícola produz uma variedade de rótulos, incluindo vinhos mais simples, para consumo no dia a dia, como o Ciconia.

O vinho Esquecido, da Herdade de São Miguel -
O vinho Esquecido, da Herdade de São Miguel – (Cantu/Divulgação)

Além dos vinhos, a vinícola tem uma preocupação com a sustentabilidade. Em 2022, foi a primeira das 10 maiores empresas produtoras de vinho do Alentejo a receber Certificação de Produção Sustentável. “Começou de forma natural. Queríamos usar menos água, queríamos tratar bem as pessoas que trabalhavam conosco e ter lucro no final do ano”, diz o produtor. Quando fizeram a primeira avaliação, perceberam que várias das metas já estavam sendo cumpridas. “Foi melhor do que esperávamos”.

Passaram a adotar outras práticas, como a introdução de ovelhas nas vinhas. Por conta da pastagem no inverno, conseguiram reduzir o uso de herbicidas e de adubos químicos, com 50% da fertilização feita de composto animal e de resíduos orgânicos da adega. Há também uma preocupação social em garantir boas condições aos trabalhadores. “Estamos em uma região muito desfavorecida e é preciso cuidar das pessoas. Assim conseguimos também manter os talentos”, diz Relvas.

A Casa Relvas está inserida no agronegócio português há cinco gerações, mas a Herdade de São Miguel é mais recente, comprada por Alexandre em 1997. São 350 hectares de vinhas, além de 97 hectares de sobreiros, as árvores com as quais se faz as rolhas dos vinhos. “Começou como uma empresa familiar, mas já somos 140 pessoas. Temos uma grande estrutura”, afirma Relvas. Hoje, a produção anual é de 7 milhões de garrafas. Quase 70% da produção é exportada para 30 países, e o Brasil é seu principal mercado.

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O produtor Alexandre Relvas, da Casa Relvas -
O produtor Alexandre Relvas, da Casa Relvas – (./Reprodução)

Para o produtor, apesar da boa aceitação do vinho português no país, há certa dificuldade em comunicar a diversidade que existe, mesmo no Alentejo, uma região razoavelmente nova. “Há muitas marcas, ainda mais com o fenômeno das importações independentes, e às vezes o consumidor fica perdido”, diz Relvas. “Mas no fundo, pode não ser tão fácil comunicar, mas essa é uma vantagem para nós”.

O Brasil será um mercado importante, ainda mais em um momento em que o consumo per capita na Europa, onde já existe muita tradição, vem caindo. “Acredito que o Brasil vai continuar tendo uma evolução”, afirma. “E é aqui que se melhor serve o vinho nos restaurantes. É claro que não é em todo lugar que se bebe vinho, como botecos e lanchonetes. Mas onde há uma carta, em restaurantes, é, talvez o melhor serviço do mundo”, conclui.

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