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Quarentena fake

Isolamento com jeitinho brasileiro é o pior dos mundos

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h20 - Publicado em 5 jun 2020, 06h00
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  • Monumento aos Bandeirantes na Zona Sul de São Paulo
    Cidade de São Paulo pode ter chegado à fase de platô na pandemia (Fabio Vieira/Getty Images)

    Vivo escrevendo que a quarentena pode ser uma experiência positiva e transformadora. Tento exalar positividade a cada sílaba. Um coro de autores segue a mesma trilha. “Oh, como é bom ter uma oportunidade para reavaliar a vida” — esse é o refrão repetido incansavelmente. No Instagram, no Facebook, no Twitter, nos textos, todo mundo garante que a quarentena é uma oportunidade. Vamos cair na real. Não tem coisa mais chata.

    Eu nem sou do tipo que vive saindo de casa. Escrever novelas é puro home office. Autor fica trancado a maior parte do processo. Acostumei a trabalhar isolado. Mas sinto falta do contato social mínimo. Tipo ir a um rodízio, devorar costela e picanha. Só pedir ao garçom: “Mais um pedaço deste… aquela ponta bem torradinha…”. Dá para ir de máscara a um rodízio? Impossível. Aliás, nem tem rodízio aberto.

    Muita gente está pirando. Enviam mensagens dizendo que não aguentam mais. Aconselho: “Não trate a pandemia como um problema pessoal, emocional. É uma crise mundial, com impacto comparável ao da I Guerra, por exemplo”. É verdade. Transformar o coronavírus em problema emocional é o caminho para o despenhadeiro. Contudo, para a maioria das pessoas, é difícil de aguentar.

    Muita gente está pirando. Enviam mensagens dizendo que não aguentam mais

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    Outro dia soube de um senhor que mantinha um isolamento social rígido. Pegou o coronavírus e faleceu. Como? Fez o que muita gente está fazendo. Deu uma saidinha. Um amigo carioca garantia estar trancadinho. Postou uma mesa repleta de sushis. “Foi só para comemorar o aniversário” — explicou. Outro conhecido foi para a praia. Alugou uma casa, para viver ao ar livre e caminhar na beira do mar. Em seguida, passou a convidar os amigos nos fins de semana. Faz até raves. Mas, se alguém pergunta, diz que cumpre rigorosamente o isolamento social.

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    As pessoas acreditam nas próprias mentiras, eis tudo. Eu sempre desconfiei de pesquisas de comportamento justamente por isso. Quando questionado, o entrevistado apresenta a melhor face de si mesmo. Sendo assim, quem vai falar que transgrediu a própria quarentena? Ainda mais sobre a vida sexual, que está difícil. Quem é casado ficou na vantagem. Os outros estão frenéticos. Tipo tigres correndo de um lado para outro numa jaula. Eu nunca recebi tantos nudes! O povo mais atrevido distribui cantadas. Recorre aos aplicativos. Se faz de anjinho. Mas só falta ter um aplicativo chamado vapt vupt — tal a rapidez com que acontecem os encontros. Um amigo está organizando orgias. Quando soube, adverti-o dos riscos — não só de corona, aliás. A resposta: “Mas não é tanta gente assim”. Fico pensando: de quantas pessoas está falando? Em seguida, ele volta com o refrão: “Estou tomando absoluto cuidado”. Opa! Como seria se não estivesse?

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    Saí para passear de carro, sem descer. Peguei trânsito. As ruas estão ficando cheias. É o pior dos mundos: quarentena com jeitinho brasileiro. As pessoas fazem home office e adiam compromissos, com o argumento de que estão isoladas. Mas, de fato, caem na farra. Já disse que quarentena é chata, não vamos mentir sobre isso. Mas cuidado. Mentira não evita o corona.

    Publicado em VEJA de 10 de junho de 2020, edição nº 2690

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