O Carnaval é tempo de dançar, cantar, namorar e… falar de política? Se depender das marchinhas carnavalescas deste ano, certamente. Com a polarização entre esquerda e direita desde as eleições de 2018 e a multiplicação de escândalos, declarações polêmicas e micos protagonizados por figuras ligadas ao novo governo, a internet tem se tornado solo fértil de sátiras à política brasileira.
“Nossa bandeira jamais será vermelha, quem garantiu foi Jesus na goiabeira”, canta a família Passos — Isis, Nilton, Reni e Marília — ao redor da mesa da cozinha, em Curitiba. O vídeo caseiro intitulado Talquey Talquey A Culpa é do PT faz alusão à declaração da ministra Damares Alves de que teria, na infância, tido uma visão de Jesus Cristo no alto de uma goiabeira. A marchinha despretensiosa foi publicada no Facebook para divertir parentes e amigos no dia 9 de janeiro. Na véspera do Carnaval, o vídeo já foi visualizado quase 2 milhões de vezes.
Depois disso, os curitibanos (acompanhados por Lígia Passos, filha que não participara do primeiro vídeo) criaram um canal no YouTube e passaram a lançar marchinhas regularmente, sempre de olho nos deslizes da política. Temas como meritocracia, Operação Lava Jato e reforma da Previdência já ganharam versos entoados pela família, uns mais carregados de humor, outros com tom mais severo.
Quem também aproveitou o clima carnavalesco para alfinetar os novos “poderosos” foi a banda Maracutaia, formada por sete amigos de São Paulo. O grupo aparece cantando e dançando uma composição própria chamada Bloco do Biroliro. O vídeo caseiro gravado em um terraço viralizou e chegou à marca de 1,2 milhão de visualizações no Facebook.
A canção, de seis minutos, fala em “marcha na contramão” enquanto cita nomes como o do ministro da Justiça Sergio Moro, do vice-presidente Hamilton Mourão, do ex-motorista de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, e até a Lei Rouanet. Porta-voz do grupo e historiador, Marcelo Ferraro, conta ao #VirouViral que o vídeo é “uma brincadeira divertida com provocações sinceras”. Ele explica que a marchinha adota o ponto de vista de um simpatizante de Jair Bolsonaro, o “Biroliro” do título, mas usa falas ambíguas para apontar aspectos problemáticos do governo.
Reação
Os vídeos têm suscitado as mais diversas repostas. Isis Passos, da família de Curitiba, conta que tem recebido reações positivas, tanto de pessoas identificadas com a direita e mais alinhados ao presidente, quanto da esquerda. “Não esperava essa recepção, mas as pessoas entenderam que é uma brincadeira, uma maneira de se manifestar.”
Já Marcelo, da banda Maracutaia, revela ter recebido comentários “violentos”, mas diz não ter medo de retaliação: “Apesar de o governo mostrar atitudes autoritárias, não há ainda qualquer demonstração de censura”, pondera, comparando o boom de marchinhas politizadas em 2019 com manifestações populares intensificadas na Era Vargas e durante a ditadura militar.
Para quem mora em São Paulo, a Maracutaia vai se apresentar em 1º de março no Centro Cultural Butantã, mas a banda também vem recebendo convites de blocos de outros estados para levar a marchinha às ruas. Já as composições da família Passos poderão ser ouvidas pelas esquinas de Curitiba, Olinda, Recife, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo.
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