As apresentações de Beyoncé no festival Coachella, na Califórnia, em 14 e 21 de abril de 2018, foram tão impactantes que o evento ganhou, entre os presentes, um novo nome: “Beychella”. Não era para menos: a cantora americana levou 200 pessoas ao palco, entre músicos e dançarinos. Foi um dos shows mais emblemáticos da sempre superlativa carreira de Beyoncé. Ela foi a primeira artista afro-americana a ser protagonista do festival desde sua criação, em 1999. O show Homecoming tem números musicais poderosos — a versão de Crazy in Love com uma banda marcial está entre os melhores momentos da artista no palco. Como de praxe, ela não se contentou apenas em tocar seus sucessos: fez do show uma peça de exaltação do feminismo e da cultura negra. As músicas são entrecortadas de frases de intelectuais negros como a escritora Toni Morrison e a poetisa Maya Angelou. É uma lacração virtuosa: Homecoming — que também deu origem a um álbum de quarenta músicas, disponível nas plataformas de streaming — atesta que Beyoncé é a maior e mais talentosa performer do pop atual. O que a Netflix pôs no ar não é apenas o show, mas um documentário que explora os bastidores do espetáculo, da seleção dos bailarinos aos exaustivos ensaios — muitos deles com a presença do rapper Jay-Z, marido da estrela. Famosa pelo rígido controle de sua vida privada, Beyoncé permitiu vislumbres de sua intimidade. Fala da gravidez complicada dos gêmeos Sir e Rumi (o coração de um dos bebês chegou a parar de bater) e dos sacrifícios alimentares para recobrar a forma após o parto, em 2017. Mostra também um pouco de sua vida em família. A filha, Blue Ivy Carter, canta num ensaio, os gêmeos aparecem em breves momentos e a cantora exulta ao descobrir que finalmente coube em um figurino que usava antes da gravidez. Beyoncé, claro, não dá ponto sem nó: ao descer do pedestal e mostrar o esforço da mulher comum para estar linda diante dos fãs, só amplia seu carisma.