Cássia Eller, a Fernanda Montenegro do rock nacional e da MPB
'Todo Veneno Vivo' traz na íntegra o show da cantora brasiliense em homenagem ao compositor Cazuza e mostra todo seu poder de intérprete
Existem várias histórias pitorescas a respeito de Cássia Rejane Eller (1962-2001). Numa das melhores, Marcelo Castello Branco, então presidente da gravadora PolyGram (hoje Universal), leu que a cantora era fã de vídeos pornô e que os assistia no estúdio, mas os escondia quando aparecia alguém da companhia. Castello mandou então um fornecimento do que havia de mais bizarro no universo pornográfico juntamente com um bilhete no qual avisava que ela podia “consumir” o material sem restrições. Foi com esse clima, digamos, libertino, que ela gravou Veneno AntiMonotonia (1997), álbum dedicado à obra do compositor Cazuza, e um dos melhores trabalhos de sua discografia. É anárquico e reverente no ponto certo, com ou sem ajuda de vídeos de sexo explícito. Ele rendeu um disco ao vivo, Veneno Vivo, que está sendo lançado agora em versão mais completa: Todo Veneno Vivo aproveita catorze canções do material lançado em 1998. O restante é completado por dez faixas que foram interpretadas no show, mas que não saíram no álbum. Entre elas estão uma versão arrepiante de Blues da Piedade, um Preciso Dizer que te Amo mais blues e apaixonado, e um Menina Mimada com pegada rock’n’roll superior à versão original, do Barão Vermelho, e acrescido com um versos extraídos de Quinta-Feira (Tópicos para uma Semana Utópica), poema de Cazuza. Cássia Eller era muito mais do que uma admiradora de vídeos “educativos”. Sobre ela já foi dito que era a Fernanda Montenegro da MPB. Sendo assim, as versões Todo Veneno Vivo estão à altura da atuação de dona Fernanda em Central do Brasil.