Regiane Alves, 44, vive a mocinha Clara em Vai na Fé, novela das sete da Globo. A personagem foi o vértice central de um triângulo amoroso do relacionamento abusivo formado por Theo, interpretado por Emilio Dantas, e a personal trainer Helena, vivida por Priscila Sztejnman. A atriz, que com o fim do folhetim, também encerra o contrato fixo com a emissora, conversa com a coluna sobre a repercussão da personagem, o papel marcante em Mulheres Apaixonadas (de 2003), em reprise na emissora, e a polêmica envolvendo a cena de beijo lésbico, que foi cortada antes de ir ao ar.
Clara de Vai na Fé foi muito abraçada pelo público. Como lidou com essa repercussão? O melhor possível. As pessoas têm um carinho enorme pela Clara, as mulheres que passam o que ela passou na história têm a personagem como exemplo, para também dar a volta por cima e seguir com seus sonhos e desejos de liberdade.
A novela também apresenta o relacionamento abusivo com o Theo. Qual é o seu julgamento sobre isso? A história de Clara também é a de muitas mulheres que sofrem relacionamentos abusivos, e por incrível que pareça, numa faixa de classe média alta, ou seja, a violência acontece em todos os níveis sociais. Muitas não têm coragem de sair do relacionamento, seja por motivo financeiro ou dependência emocional. Não podemos julgá-las, não sabemos a gravidade de cada situação. Posso, com a ajuda da arte, despertar e fazer com que entendam onde estão. Como experiência pessoal, posso dizer que, quanto mais fiéis aos nossos desejos, saber do nosso valor e nos valorizarmos o tempo todo já é algo benéfico contra relacionamentos tóxicos.
E a cena do beijo, como foi? A cena foi leve, descontraída, pertinente dentro de uma relação afetiva, feita com carinho e respeito. Dirigida pelo Paulo Silvestrini que tem muito zelo pela história. Tivemos muitas pessoas no estúdio querendo ver, porque era uma vitória e alegria ao mesmo tempo.
Qual foi o sentimento quando cancelaram as cenas antes de ir para o ar? Teve frustração como atriz? Sim, teve. Teve um cuidado com o tema? Sim, teve. Mas o que me cabe falar é que bom que o movimento da comunidade nas redes sócias foi feito e de alguma forma aceitaram e colocaram a cena no ar. Vejo como um momento de vitória e de muita importância.
E quais são as suas inspirações para isso? Já se relacionou com mulheres? No início fiquei um pouco preocupada por não ter experiência na minha vida pessoal. E conversando com a Priscila, ela também não, o que nos aliviou. Juntas fomos descobrindo como fazer essa relação acontecer. O que sei é que também ganhei uma amiga.
Os idosos Leopoldo (Oswaldo Louzada) e Flora (Carmen Silva) eram maltratados pela neta (Regiane Alves) em Mulheres Apaixonadas (2003). Como você vê esse trabalho repercutir ainda hoje? Fico muito feliz por ter feito parte da aprovação (a história da novela virou assunto no Congresso Nacional, acelerando a aprovação do Estatuto da Pessoa Idosa, criado para assegurar direitos da terceira idade). Dóris representou, infelizmente, as piores atitudes que uma pessoa pode ter com os idosos, mas, felizmente, tive a oportunidade de fazer algo notável para ajudar na causa. Até hoje segue sendo lembrada, e já se passaram 20 anos. Ficou marcada na história da teledramaturgia. Que bom que no final, ela se regenerou. Isso mostra que até os vilões podem ter segunda chance.
Que paralelo faz entre Mulheres Apaixonadas e Vai na fé? As duas novelas abordam temas muito importantes e que servem como alerta na sociedade. Os relacionamentos tóxicos e abusivos entre um casal, o amor entre pessoas do mesmo sexo e os maus tratos com idosos. Que bom que temos a TV e a mídia para ajudar as pessoas, sempre estarei pronta para ajudar a sociedade. Fazer papéis com cunho social é algo que me faz sentir mais próxima do público. É gratificante demais.
Quais os próximos passos depois da novela? Já tem projetos? Tenho uma peça para estrear no fim do ano em São Paulo, por enquanto. Um texto espanhol que fala sobre relações entre irmãos.
https://www.youtube.com/watch?v=iT6T5E1RwsY