Nesta semana, ao retomar as ruas de Paraty como vem fazendo há vinte anos, a Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) traz para o centro de seus debates a pluralidade de visões e sensibilidades que estão em jogo na contemporaneidade, com uma programação diversa e vibrante.
Maria Firmina dos Reis é a grande homenageada desta edição. Segundo a organização, trata-se de visibilizar quem trabalha pela palavra e por um ambiente cultural e educacional mais acolhedor, seja nas margens ou nos centros econômicos do país. O desejo de que a pluralidade de discursos possa ser ouvida em Paraty e levada para longe por cada pessoa que participar da festa se faz presente também pela programação escolhida.
A abertura aconteceu na quarta-feira, 23, com a mesa Pátrios lares, dedicada à autora homenageada, que enfrentou anos de invisibilidade e esquecimento, mas produziu relatos para a história da literatura brasileira. Entre os nomes mais aguardados, a francesa Annie Ernaux, vencedora do Prêmio Nobel de 2022, e o ator Lázaro Ramos.
Confira a programação oficial:
Quinta-feira, dia 24
10h – Mesa 2: Minha Liberdade – Esta mesa propõe uma discussão sobre uma autora sem rosto, cujos escritos permanecem ainda pouco pesquisados. Trata-se do encontro de intelectuais que pesquisam a literatura brasileira e o período em que Maria Firmina dos Reis atuou. Em diálogo, eles podem nos ajudar a entender de que forma a produção da autora contribui para o pensamento sobre o Brasil, sobretudo a partir da Independência. Lilia Schwarcz (SP)/ Eduardo de Assis Duarte (MG).
12h – Mesa 3: A literatura em que habito – A mesa põe em cena escritas profundamente ligadas ao deslocamento, entreculturas, línguas e formas artísticas. Diversos trânsitos migratórios fazem de suas obras um entre-lugar em que se experimentam sentimentos de pertencimento e desarraigo, em que o sentido precisa ser constantemente retraduzido. Bessora (França, Gabão, Suíça)/ Carol Bensimon (RS)/ Prisca Agustoni (MG).
19h – Mesa 4: O corpo de imagens – Este encontro instiga reflexões sobre as conexões entre performance, poesia, fotografia, literatura e artes visuais, com a participação de artistas que compõem obras em suportes, linguagens e formatos variados. Lenora de Barros (SP)/ Ricardo Aleixo (MG)/ Patricia Lino (Portugal).
20h45 – Mesa 5: A festa das irmãs perigosas – Reúnem-se nesta mesa escritoras que inspiram novas formas de contar, seja por meio da desorganização dos gêneros literários canônicos, seja pela discussão profunda de gênero, seja – ainda – pela criação de novas linguagens na literatura, no cinema e no teatro. Camila Sosa Villada (Argentina)/ Luciany Aparecida (BA).
Sexta-feira, 25
10h – Mesa 6: Ainda longos combates – Alusiva ao centenário da Semana de Arte Moderna, a mesa coloca frente a frente intelectuais que discutem as implicações de uma noção de brasilidade na literatura. Pensando no cânone brasileiro, eles colocam em pauta a contribuição de autores marginalizados para a criação de uma identidade que seria colocada em xeque pela Semana de 22. Allan da Rosa (SP)/ Eduardo Sterzi (RS).
12h – Mesa 7: Risco e transformação – Um encontro entre diferentes gerações de escritoras que trabalham com linguagens artísticas, e, ao se cruzarem em seus trabalhos, trazem uma discussão sobre as pontes entre poesia e artes visuais, feminismos e outros ativismos. Cecilia Pavón (Argentina)/ Fabiane Langona (RS).
15h – Mesa 8: O que deixaram para adiante – Esta mesa põe em diálogo autores que se apropriam de elementos presentes em discursos e tradições variados para reinventar gêneros e ressignificar acontecimentos, colocando genealogias em choque e questionando o presente. Ladee Hubbard (EUA)/ Geovani Martins (RJ).
17h – Mesa 9: E se eu fosse – A mesa reúne autores que borram as fronteiras entre o eu ficcional e o eu autoral. Com trabalhos tão genuínos quanto controversos por sua ruptura com o decoro, eles levantam questões sobre a politização da arte e os limites entre literatura, vida, texto, autoria e voz narrativa. Amara Moira (SP)/ Ricardo Lísias (SP).
19h – Mesa 10: Do mal que tu me deste… – Uma entrevista intimista com o fenômeno literário que embaralha as fronteiras entre os gêneros com narrativas que explicitam as relações entre ciência, sociedade e literatura. Sua imaginação se alia a uma escrita que põe em suspensão as definições e os limites da arte para indagar a ética da existência humana. Benjamin Labatut.
20h45 – Mesa 11: Livre e infinito – Mesa dedicada à artista Claudia Andujar, com a participação de duas gerações de fotógrafas brasileiras comprometidas com a Amazônia e os direitos humanos. Davi Kopenawa Yanomami (RR), remoto/ Nair Benedicto (SP)/ Nay Jinknss (PA).
Sábado, 26
10h – Mesa 12: Cidades e floresta – O músico paratiense Luís Perequê, a educadora, filósofa e artesã Cris Takuá e o líder e cineasta indígena Carlos Papá, ambos do povo Guarani Mbya, trazem os saberes ancestrais e práticas locais para o centro do debate sobre a construção de sistemas abertos de cidade. Luís Perequê (RJ)/ Carlos Papá (SP)/ Cristine Takuá (SP).
12h – Mesa 13: Memória Flip 20 anos
Autores que participaram das primeiras edições da Flip discutem os rumos, produções e movimentos dos últimos vinte anos do cenário literário nacional e internacional. Pauline Melville (Guiana)/ Bernardo Carvalho (RJ).
15h – Mesa 14: Diamante Rubro – As autoras reunidas aqui desviam-se da simplificação e se abrem a ambivalências. Elas ressignificam a ideia de narrar os acontecimentos, inspirando um exercício do ofício literário que está em constante combate com a realidade. Com linguagens construídas à luz de suas experiências, elas lançam reflexões sobre o papel da arte e a força da escrita. Annie Ernaux (França)/ Veronica Stigger (RS).
17h – Mesa 15: Desterrando o susto – A mesa propõe o encontro entre duas autoras que escrevem sobre solidão, ruptura e travessias. Com desejo e bravura, em viagens pelo mar e pela terra, elas incentivam a criação de novos espaços para criação e imaginação do público. Nastassja Martin (França)/ Tamara Klink (RJ).
19h – Mesa 16: Entrar no bosque de luz – No calor do giro decolonial e na revisão profunda de posições secularmente arraigadas sobre gênero e raça, esta mesa propõe o encontro de grandes talentos narrativos e perspectivas sócio-históricas diversas, de modo a pensar como a escrita constitui um espaço para revelar o protagonismo invisibilizado de populações oprimidas na tessitura do cotidiano. Luiz Mauricio Azevedo (RS)/ Saidiya Hartman (EUA)/ Rita Segato (Argentina).
21h – Mesa 17: Palavra livre – A mesa panlusófona responde à emergência de novas vozes, às margens dos espaços clássicos de consagração literária, a sua força lírica, a um só tempo poética e política. Ao mesmo tempo, em diálogo com outras linguagens, a mesa contempla a performance e a memória do corpo, que se reafirmam nas artes dramáticas e na própria escrita. Alice Neto de Sousa (Portugal)/ Lázaro Ramos (BA)/ Midria (SP).
Domingo, 27
10h – Mesa 18: O brando leque do gentil palmar – Esta mesa reúne escritoras que incorporam causas e clamores coletivos nas mais variadas manifestações, expandindo os limites do que é lido como periférico, de Cuba ao Sertão brasileiro. Cada uma à sua maneira, as escritoras desnaturalizam olhares sobre o feminino e o feminismo com suas poéticas. Teresa Cárdenas (Cuba)/ Cida Pedrosa (PE).
12h – Mesa 19: Encruzilhadas do Brasil – Um diálogo que discute quais ideias sobre o Brasil, real ou imaginado, mobilizam sua criação, assim como de que forma outras manifestações artísticas influenciam a sua produção, expandindo ou misturando gêneros literários. Cidinha da Silva (BH)/ Cristhiano Aguiar (PB).
15h – Mesa 20: Livros de cabeceira – Como já é tradição na Flip, autores convidados reúnem-se para ler trechos de suas obras preferidas. Cecilia Pavón (Argentina)/ Cidinha da Silva (BH)/ Ladee Hubbard (EUA)/ Nastassja Martin (França)/ Teresa Cárdenas (Cuba).