Na noite de domingo, 5, Madonna subiu ao palco do Grammy Awards 2023, de surpresa, para introduzir a performance de Sam Smith e Kim Petras da música Unholy. Em seu discurso, celebrou a rebeldia e a controvérsia, mas a maioria do público só conseguiu prestar atenção na sua aparência e o excesso de plásticas no rosto. Nesta terça-feira, 7, ela respondeu através de um post em seu Instagram. “Em vez de focar no que eu disse em meu discurso, sobre agradecer pelo destemor de artistas como Kim e Sam, muitos optaram por falar apenas sobre fotos minhas em close-up tiradas com uma câmera de lente longa por um fotógrafo da imprensa que distorce o rosto de qualquer um! Mais uma vez, sou pega no brilho do preconceito de idade e da misoginia que permeia o mundo em que vivemos. Um mundo que se recusa a celebrar as mulheres que passam dos 45 anos e sente a necessidade de puni-la”.
André Maranhão, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica-RJ, falou à coluna que o excesso de plástica tem nome: “síndrome dismórfico corporal”. Por outro lado, ouvimos a socióloga Roberta de Sousa Mélo, coordenadora do Laboratório de Estudos da Cultura Corporal da UNIVASF, que faz uma leitura da sociedade machista aos comentários sobre a aparência da artista.
“Tanto os comentários sobre os procedimentos realizados pela Madonna quanto a resposta dada pela mesma nos levam a um eixo comum: a centralidade da aparência nos dias de hoje. Mas é preciso lembrar, também, que há historicamente um reconhecimento da vaidade como um atributo da ‘feminilidade ideal’ e os efeitos disso se estendem aos nossos tempos com maior ênfase, à medida em que se expandem também os recursos e técnicas para a reconfiguração do corpo, com apelos centrados, sobretudo, na ‘harmonização estética’ e no rejuvenescimento ou, ao menos, no adiamento das marcas do tempo. Assim, aquilo que a sociedade julga como ‘excessivo’ é, de fato, também um efeito do valor exacerbado que ela própria atribui a aparência. Sendo assim, a ‘questão Madonna’ é também uma questão da nossa sociedade, da nossa cultura. Há, ainda, uma responsabilização total pelo que a pessoa faz com seu corpo, mas a ausência de cuidados também soaria como ‘desleixo’. A grande questão é refletirmos sobre os nossos padrões de naturalidade, assim como o que definimos como limite para a intervenção sobre o corpo”, diz a socióloga.