Erika Januza, 37 anos, desfila pela segunda vez em 2023 como rainha de bateria da Unidos do Viradouro. A atriz conversou com a coluna sobre o significado e a responsabilidade de ocupar o cargo no carnaval, além da relação de proximidade que tenta manter com a comunidade niteroiense e a força de um enredo ainda pouco estudado no país. A escola vai contar a vida e obra de Rosa Maria Egipcíaca, ou Rosa Courana, autora da Sagrada Teologia do Amor Divino das Almas Peregrinas, o mais antigo livro escrito por uma mulher negra na história do Brasil.
Qual é a sensação de ser rainha pelo segundo ano? Ainda há frio na barriga? É algo que sempre desejei, muito por admirar o carnaval, faz parte da minha vida, desde que me entendo por gente. Me lembro que era uma das coisas que a minha mãe me deixava fazer quando criança: dormir de madrugada para poder assistir aos desfiles. Tenho respeito grande pelo trabalho de todo mundo, por tudo que é, pelos bastidores para tudo aquilo acontecer. Sempre quis estar perto. Sei que é um cargo que, assim como um dia desejei, muitas meninas têm vontade de estar. Honro e valorizo por terem me convidado. Tento retribuir essa oportunidade.
Sua família tem alguma relação direta com carnaval? Nenhuma! Minha família não sabe nem sambar (risos). É uma coisa minha. Sempre tive o desejo de estar perto disso e não sabia como. Participei da corte do carnaval de Minas Gerais, fui princesa do carnaval de Belo Horizonte em 2011, um ano antes de passar no teste para Subúrbia. E quando vim para o Rio trabalhar, dez anos atrás, foi impossível não buscar o carnaval.
O enredo deste ano é sobre um pioneirismo de uma mulher negra pouco comentado. Qual é a importância de se contar histórias como essa no carnaval? É mais um dos fascínios que o carnaval tem: contar histórias, sobre a vida de pessoas, religião, protestos. No caso de Rosa Maria, é uma mulher superimportante. Mas por exemplo, o pessoal da Viradouro esteve em Ouro Preto (MG) para pesquisar sobre sua história e as pessoas de lá pouco sabiam. Então é realmente um resgate histórico o que será feito na Avenida.
Esse ano metade das escolas terá rainhas da comunidade desfilando. O que acha sobre? Não sou uma rainha de comunidade. Mas acima de tudo, ser rainha de bateria, independentemente de onde se venha, é o que se faz com aquilo. Tenho a tranquilidade de dizer que estou com minha comunidade, estou ali porque eu amo. Estou lá toda terça e domingo, só não vou se não posso. Quando uma rainha de bateria se dedica, tem um significado, que não é só colocar a sua fantasia e ir lá sambar. Respeito muito as meninas de comunidade, vejo elas sambando e fico ali querendo pegar inspiração.
Já passou algum perrengue desfilando? Nos meus ensaios de rua e de quadra, sempre tem algum perrengue, é eu chegar que algum negócio arrebenta. Ano passado, no mini-desfile, a sola da minha sandália saiu inteira e ficou balançando. Tive que ficar sustentando o samba na metade até o final com o sapato sem sola. Cheguei com o pé todo esfolado. Foi bem difícil, mas ninguém notou!
E em relação a assédios no samba, como você lida? Os seguranças passam mal comigo, porque fico em cima de um palcozinho e às vezes falo assim: ‘Vou andar’. Aí vou para o meio das pessoas. Gosto dessa coisa, tiro foto com todo mundo. Se me chamam, eu não consigo dizer não.
Já recebeu cantadas? Não acontece muito não, as pessoas respeitam muito. Ninguém nunca me desrespeitou ou falou nada de diferente para mim. As pessoas têm essa falsa ilusão de que eu sou muito assediada, mas não sou.
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