Aos 28 anos, Bruno Fagundes já tem metade da vida dedicada ao teatro. Na televisão, mídia que fez do pai, Antonio Fagundes, um nome nacionalmente conhecido, tem uma curta experiência: protagonizou, em 2014, a novela Meu Pedacinho de Chão, escrita por Benedito Ruy Barbosa e dirigida por Luiz Fernando Carvalho na Globo. Apesar da equipe de peso, a experiência, diz, foi “muito dolorida”. E, depois dela, não surgiu mais nenhum convite para voltar à TV.
“Foi um processo difícil para mim, eu assumo. Em seguida, apesar de a novela ter ido bem e meu personagem ter recebido boas críticas, eu não tive a oportunidade de fazer nem mesmo um teste. Isso me frustrou, porque acho que entreguei um bom trabalho. Então, decidi voltar para onde eu me sentia seguro, que era o teatro.”
E Bruno de fato não parou. Ele já produziu e estrelou peças bem recebidas pela crítica, como Vermelho, Tribos e Senhor das Moscas, nem sempre junto ao pai. Fez ainda uma ponta em Sense8, a série dirigida pelas irmãs Wachowski (Matrix) para a Netflix, e foi chamado para a segunda temporada de 3%, primeira produção nacional do serviço de streaming.
É sobre teatro, TV e Lana Wachowski, com quem teve um tête-a-tête dos mais interessantes, que Bruno Fagundes fala a VEJA:
Você tem feito mais teatro que televisão. É uma escolha? É. Fiz uma novela das 6 (Meu Pedacinho de Chão) em 2014 e foi uma experiência de dor e de delícia. Aprendi muito, fiz um personagem relativamente grande, mas muito dolorido, porque foi a primeira vez que eu lidei com a pressão da TV, da obrigação de se ver todo dia. Foi difícil.
O que o ajuda a ser escalado na TV? Não existe uma fórmula clara para trabalhar em TV. Nosso mercado não se pauta pela meritocracia. O sistema de celebridade confundiu as coisas. Há emissoras que têm escalado pelo número de seguidores nas redes sociais. Tive a sorte de ser visto no teatro.
Por que seu pai e você abrem mão das leis de incentivo ao teatro? É uma posição ideológica. A gente vê muitos colegas que ficam dependentes da lei, da aprovação do governo e de buscar patrocínio de uma empresa. Meu pai fala disso há anos: a lei de incentivo, a Rouanet, deturpou o mercado teatral. Quando você tem uma grande empresa patrocinando, você, como artista, não se preocupa tanto com o resultado – afinal, o espetáculo está pago. A nossa opção é reduzir os custos para que a bilheteria sustente a peça. Agora, com a lei que limita a meia-entrada, está mais fácil. Antes, chegamos a ter 90% de meia-entrada.
Como foi fazer Sense8, série da Netflix? Cheguei com humildade ao set, em um hotel na zona sul de São Paulo, achando que ninguém saberia o meu nome. Foi o oposto. Fui tratado com carinho e respeito, algo que eu nunca experimentei no Brasil. Nunca, nunca, nunca. Era uma equipe de 120 pessoas, de diferentes nacionalidades, e todo mundo me chamando pelo nome. “Bruno, você está confortável?”, “Bruno, você quer comer alguma coisa?”. Fiquei muito surpreso com o cancelamento da série.
E como foi filmar com as irmãs Wachowski? A gente estava gravando e repetiu um milhão de vezes a cena. Uma hora, a câmera saiu de foco, a Lana veio até mim e falou, “Olha, as máquinas são imperfeitas. Mas sabe o que são perfeitas? As pessoas. Você foi perfeito, mas a câmera saiu de foco. Você se incomoda de gravar de novo?”. Eu quase chorei.
Como foi o beijo que você deu em outro ator? Me perguntaram se tive medo. E eu vou ter medo de beijo? Que coisa mais absurda. Eu sou um ator.