A coluna ouviu dois especialistas em comportamento humano, o médico psiquiatra Alexandre Valverde e o especialista em psicologia positiva Rodrigo de Aquino, para comentarem a relação familiar de Larissa Manoela e seus pais. O assunto veio à tona após a própria atriz dar uma entrevista ao Fantástico expondo áudios de conotação abusiva, quanto a sua dependência financeira. Eis o que os especialistas comentam:
Alexandre Valverde, médico psiquiatra pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), autor do livro Ruptura, Solidão e Desordem – Ensaio sobre Fenomenologia do Delírio (FAP-Unifesp): “As relações abusivas passam por um circuito de lua de mel, de love bombing e depois fase de depreciação. Depois, a fase de abuso propriamente dita, depois da fase de abuso, a fase de descarte. A criança, filha de pais narcisistas que sustentam esse tipo de relação de abuso, tem a fase de uma aparência de normalidade, constituída da casa para fora, para que a sociedade tenha a impressão de família feliz. Os pais estão usando a potência financeira que a filha produz para o bem próprio, e eles administram isso sob a alegação de que ela é jovem. Agora, ela não tem condição de cuidar das próprias finanças, mas tem condição de produzir desde os quatro anos como artista. É estranho. A gente pode diagnosticar e entender essas relações perversas que acontecem no seio familiar, isso é uma realidade. Depois, ela vai ter que revisitar a Larissa Manoela e ver essa questão toda de entender quais dinâmicas abusivas estava acontecendo dentro da família. A gente não sabe quais são as rédeas que a família instalou na Larissa para ter esse controle sobre ela, mas certamente deve acontecer. Só que essa questão da intimidade, ela deve trabalhar em terapia. Não estou fazendo o diagnóstico dos pais dela. Isso não pode ser feito. Estou falando nos termos genéricos, que a gente consegue observar e a pensar se não é isso que pode estar acontecendo”.
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Rodrigo de Aquino, especialista em psicologia positiva e bem-estar: “Toda boa relação devia ser baseada em afetos acolhedores de confiança, de segurança. E isso cabe em todas, nas relações familiares, societárias, de amizade. Mas nem sempre isso acontece. O que deveria ser responsabilidade de todos os envolvidos, acaba muitas vezes se transformando em poder. E aí alguém, algum dos atores da relação acaba assumindo papel de poder e criando relação tóxica. Isso obviamente que não é uma regra. Mas costuma acontecer, principalmente quando envolve, em algum momento, dinheiro. É o que vemos no caso da Larissa Manoela com os pais. Ela tem contrato dizendo que já era maior de idade e sabia que estava com a menor parte da empresa. Mas quando imaginou que os pais usariam isso contra ela? Uma das coisas muito importantes que a gente aprende nessa história é de como a gente precisa entrar em relações com consciência ampla. Tem momento da fala da Larissa, que ela disse que renuncia ao empresário para poder manter o pai ao lado dela. O abusador, em algum momento, ou a pessoa que teve essa relação de poder, tem que ter a humildade de entender que errou, e o outro lado ter compromisso de perdoar”.