Uma das ativistas da causa animal mais respeitadas do Brasil, Luisa Mell está abalada — mas não surpresa — com a decisão do presidente Jair Bolsonaro de instituir o Dia do Rodeio na mesma data do Dia Mundial do Animal: 4 de outubro. Importante: esse é o dia de comemorar o padroeiro dos bichos, São Francisco de Assis. “Vejo essa ação como um deboche na cara de todos que zelam pela saúde de animais”, diz. O ato de Bolsonaro se deu a pedido do senador Wellington Fagundes, do Mato Grosso.
Como vê a criação do Dia do Rodeio? O presidente tem o direito de apoiar a indústria do rodeio, mas não precisa tripudiar em cima de uma multidão de pessoas que trabalha e zela pela vida dos bichos. A escolha da data é um deboche. O rodeio maltrata animais, e ponto. Eu me sinto andando para trás nas causas animal e ambiental. Regredimos 20 anos em 2019.
Por quê tem essa avaliação? Tem sido um ano difícil, parece com um pesadelo sem fim. O próprio anúncio do ministro Ricardo Salles (de quem Luisa foi colega de classe no curso de Direito, no Mackenzie) foi uma tremenda ironia, afinal, o escolhido não trabalha em prol da preservação. Eu não entendo como um presidente da República de todo um país, de todos seus cidadãos, não trabalha para o bem de todos. O Bolsonaro tem feito uma campanha difamatória contra ONGs. Esses ataques são inconcebíveis. Em todas as sociedades, ainda mais nas desiguais, o terceiro setor tem ajudado muito para minimizar a acabar com problemas sérios.
Diante desse contexto, você está desanimada? Com um 2019 tão triste, sobretudo pelas queimadas na Amazônia e o derramamento de óleo em praias do Nordeste, eu tenho medo do que pode ocorrer em 2020. Mas não desisto. Sigo trabalhando porque nesses momentos temos de estar mais fortes. Entrei com uma ação civil pública para impedir a exploração de petróleo em Abrolhos. Temos de seguir em frente.