No fim dos anos 1970, no Rio de Janeiro, a disputa entre bicheiros se estabilizou a partir de uma série de acordos entre “cavalheiros”. Capitão Guimarães, Anísio Abraão David, Castor de Andrade e Miro Garcia surgiam como protagonistas no submundo do carnaval carioca e na contravenção do jogo do bicho. É neste mote que a excelente série documental Vale O Escrito – A Guerra do Jogo do Bicho (disponível no Globoplay) se aprofunda. Os diretores Fellipe Awi, Ricardo Calil e Gian Carlo Bellotti – integrantes do núcleo de documentário do streaming, supervisionado por Pedro Bial – mergulham neste universo para investigar a história, seus personagens e sua dinâmica, que impactam diversos setores do Estado. Ao longo de sete episódios, bicheiros, seus herdeiros e mulheres falam sobre a dinâmica do negócio e não poupam críticas e acusações mútuas.
Em conversa com a coluna, Erick Brêtas, diretor de Produtos Digitais e Canais Pagos da emissora, relata a dificuldade prática do trabalho. “Foram dois anos de pesquisa, muita pesquisa, negociação com os entrevistados. Os criadores da série tiveram negociações complexas, para que se convencesse as pessoas a darem entrevistas como deram. Teve negociação que durou seis meses, um ano… Teve gente que deu entrevista e depois se arrependeu. Aí foi convencido de que valeria a pena… É muito bacana ter dois anos para fazer isso, porque não se consegue ganhar a confiança de todos em seis meses”.
Erick afirma ainda que, mesmo com as denúncias levantadas pelo documentário, nenhum dos citados reclamou do que foi levado ao ar. “Acho que é o Rio de Janeiro, essa mistura… Todo mundo tinha essa figura do jogo do bicho como algo inocente. E a série mostra que não é bem assim. Tem disputa de território, mortes, tiro, arma. A série tem esse mérito”.