Há quinze anos como apresentador do Domingo Legal, Celso Portiolli, 57 anos, domina boa parte da grade nobre do SBT aos domingos desde que, há um mês, Eliana deixou a emissora para rumar à TV Globo. Apesar da rápida passagem pela política – foi vereador pelo PDT em 1992 no interior do Paraná – ele não descarta totalmente uma nova experiência com as urnas. “Por enquanto, não penso em política”, diz. Em entrevista exclusiva à coluna GENTE, o apresentador fala sobre o grupo Havan, cujo dono é declaradamente bolsonarista, e que patrocina seu dominical de auditório, além de lembrar das lições que aprendeu com Silvio Santos e do medo que sentiu ao assumir o lugar que um dia foi de Gugu Liberato.
A julgar pela audiência dos últimos domingos, desde a saída da Eliana, o público gostou da sua permanência em um maior tempo no ar. Como avalia isso? A audiência dos últimos domingos tem sido realmente encorajadora. Essa ampliação de horário do Domingo Legal trouxe uma oportunidade maior para eu passar mais tempo no ar, colocar mais quadros no ar. É gratificante ver que o público aceitou bem essa mudança. Isso me motiva, motiva a equipe. A equipe está super engajada. Tem bons estrategistas. O Gargalaca é um diretor muito competente.
É preciso maior preparação física para estar mais horas ao vivo? Mantenho a minha rotina de exercícios. Mas agora eu vou intensificar um pouquinho. Fui autorizado pelos médicos a voltar a tomar creatina e proteína. Ajuda bastante. E com isso vou aumentar a intensidade dos treinos na academia. Quando você trabalha bastante assim, é muito bom estar bem preparado para aguentar o ritmo. Agora, a partir de segunda-feira, estou intensificando a minha rotina de exercícios.
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Qual é o peso que tem para você ao ser citado muitas vezes como o “substituto” de Silvio Santos aos domingos? Bom, uma grande honra, né? Uma responsabilidade imensa. Mas nunca me vi como substituto dele. Sempre me vi como um animador pra trabalhar ao lado dele. Silvio Santos é o mestre da comunicação, ícone da televisão brasileira. E ser comparado com ele, pra mim, é um reconhecimento que eu valorizo muito.
Qual foi a maior lição que Silvio te deu e que você leva para a vida? Foi a importância de ser autêntico, de valorizar o público. Outra coisa, manter os pés no chão. Porque ele sempre me disse que o artista, um dia, acaba. E a nossa vida continua. Então, manter os pés no chão. E falando em herdar o legado do Silvio Santos, a Patrícia Abravanel tem honrado o trabalho dele como animadora. É inspirador ver a dedicação dela. Tem mais, o SBT me deixa à vontade pra trabalhar, me dá liberdade criativa. Posso fazer o que quiser dentro do Domingo Legal. Essa confiança e o ambiente acolhedor fazem diferença no meu desempenho e na entrega.
Os programas de auditório aos domingos são clássicos na TV aberta, mesmo diante do avanço do streaming como concorrência. A que você credita esta fórmula que nunca sai de moda? Os programas de auditório são uma grande tradição da televisão brasileira. Acredito que essa fórmula nunca vai sair de moda, porque oferece algo que é único, a energia que um auditório cheio pode proporcionar. Além disso, os programas têm o poder de reunir a família em torno da TV, a família assiste unida, criando momentos entretenimento compartilhados, que o streaming, com seu consumo individualizado, não consegue replicar, não consegue fazer. Essa conexão direta e emocional com o público mantém os programas de auditório relevantes e vivos.
Seu nome é muito associado aos programas de domingo. Mas teria vontade de mudar de horário ou de dia da semana? Olha, não tenho vontade de mudar de dia, não. Só no Domingo Legal são 15 anos, fora os outros programas que fiz aos domingos. São quase 30 anos aos domingos. E isso veio desde a época do rádio, trabalhei muito nos finais de semana. Nunca tive domingo de folga.
Do que você precisa abrir mão para estar ao vivo todo domingo no ar? Já me acostumei, minha família também já se acostumou a não ter o pai nos almoços de domingo. Quando chego em casa, já é tarde. E agora é mais tarde ainda. Chego agora para o jantar em casa. Mas se tiver qualquer outro projeto na semana do SBT, posso aceitar fazer, assim, esporadicamente, porque a exposição de imagem é grande… Com sete horas de domingo.
Recentemente, você defendeu sua filha que passou a ter um programa de podcast exibido pelo SBT. Qual foi seu papel nessa negociação? O meu papel nessa negociação foi ter recebido uma ligação do SBT e ficar surpreso. Eles me disseram que um podcast ia deixar a grade do PodNight e que a direção da casa tinha interesse em colocar o PodC Mais, que é o podcast que minha filha já faz há um ano na internet. E falei: ‘Olha, não posso opinar por ela, vou perguntar se ela pode liberar o conteúdo que tem na internet e colocar na grade do SBT’. Perguntei, e ela falou que o SBT poderia sim usar o conteúdo na grade. Enfim, outra pergunta que fiz para ela foi se estava preparada para receber críticas, porque estaria em rede nacional. Ela disse que sim. Aí respondi: ‘Sucesso teu, fracasso teu, vai em frente’.
Em um dos últimos domingos, você levou seu filho ao programa. Ele pensa em seguir sua carreira? Gostaria de vê-los à frente de alguma atração? Não dou nenhum palpite na carreira que devem seguir. Faço exatamente o que o meu pai fez comigo: ‘Faça o que você quiser, depois não venha chorar’. É assim que lido com eles. Sobre o meu filho, foi uma brincadeira que fiz no ar. Ele é muito tímido e raramente vai à TV comigo. Nesse dia que ele foi, falei: “Vou fazer uma brincadeira para ver se ele perde a timidez e aproveitar o hype do assunto’. Tenho emissoras de rádio, estúdio em casa, e eles nunca quiseram fazer programa. Tudo tem sua hora. Eu não obrigo a nada. Quer fazer, faz; não quer fazer, não faz. Agora, se um dia quiserem fazer posso dar conselhos.
Você e Eliana pareciam muito próximos e amigos. Como ficou sua relação com ela? Sim, a Eliana e eu sempre tivemos uma relação muito próxima e amigável. Desde que ela saiu do SBT, continuamos nos falando. Nossa amizade vai além do trabalho e a saída dela da emissora não mudou isso.
Sentiu medo no começo, ao assumir o Domingo Legal, que durante tanto tempo foi comandado por Gugu Liberato? Toda mudança traz incerteza. A gente tem que aprender a tirar o melhor das incertezas. No início, assumir o Domingo Legal foi um grande desafio, porque o Gugu deixou uma marca forte. Senti medo, uma grande responsabilidade, mas tive o apoio da internet. Naquela época, o Twitter me apoiou muito. Isso me deu força muito grande. Sabia que o público tinha expectativas altas. Minha estratégia foi ser eu mesmo e trazer minha própria identidade ao programa.
Um dos principais patrocinadores do seu programa é o grupo Havan, cujo dono é declaradamente bolsonarista. Em algum momento temeu que essa questão política pudesse influenciar na imagem do programa? A parceria com os patrocinadores é fundamental para o sucesso do programa, e o grupo Havan tem sido um grande apoiador. No entanto, sempre deixei claro que o Domingo Legal é um espaço de entretenimento e não de política. Minha preocupação principal é oferecer um conteúdo de qualidade e divertido para o público, independentemente das posições políticas dos patrocinadores.
Como você espera estar daqui a dez anos? Que tipo de programa gostaria de fazer além do que já vai ao ar? Não consigo imaginar esse longo prazo. Daqui a 10 anos, vou estar com 67 anos. Realmente, não sei o que estarei fazendo na televisão ou nas mídias digitais. Tenho planos para mim e para minha família, mas não a longo prazo. Depois que tive problema de saúde, não faço mais projetos longos. Vou viver o dia a dia e aproveitar cada momento ao máximo. Estou super bem, aliás acabei de fazer meu checkup completo e estou 100%
Você teve uma rápida passagem como político, num cargo de vereador. O que aprendeu com este momento da sua vida? O melhor momento da política para mim foi a campanha. Porque na campanha visitei muitas residências a pé. Na época não tinha recurso financeiro nenhum, então andava a pé pelos bairros, tomando café na casa das pessoas, comendo bolinho, batendo papo, fazendo amizades. Essa conexão com o público foi o melhor. Tanto é que não lembro de muitos momentos na Câmara de Vereadores. Fiquei pouco tempo, apenas um ano na Câmara. O que mais marcou foi a campanha, caminhando pelos bairros da cidade, entrando de casa em casa, pedindo voto… Hoje, sou muito feliz fazendo televisão e, por enquanto, não penso em política.
Em mais de 20 anos de SBT, qual o momento que você destaca como mais marcante? Quando entrei no camarim pela primeira vez para conversar com Silvio Santos e pedir uma oportunidade. Foi uma conversa dura, onde ouvi várias vezes que nunca seria animador de televisão no SBT. Mas mesmo assim, fui um grande vendedor da minha vontade, do meu ideal. Depois de uma longa conversa, recebendo muitos ‘nãos’, saí com a resposta de que o meu dia chegaria. E chegou.