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Cátia Fonseca fala de machismo na TV, Patrícia Poeta e planos na Globo

Apresentadora do ‘Melhor da Tarde’, na Band, fala a VEJA

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 19 abr 2023, 13h22 - Publicado em 19 abr 2023, 07h01
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  • Com mais de três décadas apresentando programas femininos em diferentes emissoras de televisão, Cátia Fonseca, 54 anos, já viu e noticiou muita transformação no país. Agora no comando do Melhor da Tarde, da Band, ela percebe que o termo “programas femininos” caiu em desuso. Em conversa com a coluna, Cátia explica por que saiu em defesa de Cássia Kis no ano passado, o que acha do governo Lula (PT) e como lidou com assédios sexuais.

    Que balanço faz dessas três décadas na TV? Minha carreira foi influenciada por pensar junto a maternidade. Isso influenciou meus programas. A gente fala ‘programa feminino’, mas hoje é muito globalizado. Na Band, por exemplo, a porcentagem de homens que assistem ao programa é de mais de 40%.

    Como sente a mudança no termo “programa feminino”? Ainda há assunto só de mulheres? Vou ser bem franca com você. Foi quando cheguei na Band que senti a mudança. Sempre fui ligada em saber quem era o público que assistia a mim, na emissora anterior era mais de mulheres. Agora, não. A gente tem até pautas sobre sexo e tira dúvidas com o público, mas não existe ‘ah, isso é assunto de homem’. É um grande avanço não criar nichos.

    Outro avanço é que mais mulheres têm vindo a público falar de abusos sofridos. Como lida com o tema? É importante se posicionar, não ficar calada, chamar a polícia. O que era difícil no passado, porque eu lembro, quando tinha 15, 16 anos, sofria importunação sexual em ônibus. Não tinha na cabeça o quanto era importante denunciar.

    Como sofreu importunações sexuais? É difícil encontrar uma mulher que não tenha sofrido. É importante ver pessoas públicas se posicionando, até para que outras mulheres vejam que acontece com todo mundo. Eu pegava um ônibus superlotado, morava na Vila Beatriz (em São Paulo). Era um ônibus terrível que ia pela (avenida) Faria Lima. Os homens não só tiravam fotos, se esfregavam, literalmente. Era abuso absurdo. As pessoas olhavam e ninguém reagia, ficavam acuadas. Estou falando de mais de 35 anos atrás.

    Você sabia que aquilo era errado ou não tinha noção? Sabia, mas sempre tive personalidade forte, desde criança. Para quem tem personalidade assim, é mais fácil se impor, o que não acontece com a maioria das pessoas. Eu andava com alfinetes de fralda, de gancho. O cara vinha em cima de mim, se esfregava e eu enfiava o alfinete nele. Uma menina ia falando para outra e incentivando-a (a se proteger). Hoje a gente tem a TV, as redes sociais ajudam…

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    Já sofreu abuso no trabalho? Não cheguei a sofrer abuso sexual, mas uma vez um chefe falou: ‘Tenho umas dicas para te dar, seria legal se a gente conversasse’. Não deixei nem chegar ao ponto de ouvir mais nada: ‘Você está me confundindo, não sou assim, comigo esse negócio de conversa não rola’. E as coisas não avançaram. As pessoas têm um pouco de medo de mim.

    Por que medo? Comecei a trabalhar em televisão aos 25 anos. Acho que minha personalidade pode barrar isso. Também me casei cedo, tive o Tiago (seu filho) com 18 para 19 anos. Não sei se isso bloqueava os homens. Mas a gente também vê o quanto mulheres casadas são assediadas da mesma forma.

    Já lidou com situações de machismo na carreira? Passei por algumas situações, sim. Como as que primeiro o homem tem que falar em reuniões. Eles foram educados dessa forma, acostumados a serem machistas. Por isso a gente tem que falar: ‘Vamos consertar o que foi dito?’. Falo sem o menor problema.

    Ainda há grande desnível salarial entre gêneros. Tenho consciência disso. Estou no lugar de privilégio em relação a maioria das mulheres. Na televisão tem diferença? Até tem. Mas outras profissões sofrem mais do que eu sofro, a gente vê cargos em que as mulheres ganham pelo menos um terço a menos do que homens, é muito triste.

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    Como educou dois filhos homens, apesar dessa cultura machista na sociedade? Sempre tive relação aberta com meus filhos, a gente fala das coisas. Mas não: ‘Sou sua amiga’. Sou a mãe deles! Hoje vejo o quanto têm respeito pelas suas companheiras. Meu filho não fala nem ‘esposa’, diz que esposa é posse. Aprendo também com eles.

    O preconceito etário é outro problema, principalmente, contra mulheres. Como isso a aflige? Esta semana fiz uma receita no Instagram e uma moça falou: ‘Nossa, como você está velha!’. Não me incomodo quando falam que estou velha. Gosto de pintar o cabelo, não me sinto bem com cabelo branco. Mas acho lindo quem não pinta. Não tenho cobrança excessiva pela beleza. Cada fase da vida tem sua beleza. Tenho os braços mais gordinhos, tudo bem, não ligo.

    Você substituiu a Ana Maria Braga na TV Record. São amigas? Sou fã da Ana Maria, acompanhei a carreira dela inteira. Quando aceitei (o convite), não tive tempo de pensar que ia substituí-la. Assinei o contrato no sábado, gravei piloto no domingo e na segunda estava ao vivo. Foi menos complicado do que seria hoje com a internet. A crueldade é maior, há comparações inevitáveis. Só não consegui encontrar com ela até hoje.

    Tem acompanhado o Encontro com Patrícia Poeta? Também admiro bastante ela. Gosto muito do jeito dela, da sua naturalidade, mas estão pesando um pouco a mão com a Patrícia.

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    No ano passado, no auge da polarização política, você apoiou uma declaração da Cássia Kis. As pessoas adoram mudar o que você fala. Eu disse que a gente tem que respeitar a opinião dos outros, não importa se concorda ou não. Acham que, se você vota em um, é completamente contra o outro. E não tem nada a ver.

    Cássia fez uma declaração homofóbica, por isso a polêmica. Disso não tenho nem o que falar. Essa parte de homofobia, falei o oposto, sou totalmente contra, é como todo tipo de agressão. A gente vê muitos gays morrendo por pessoas que falam abertamente uma coisa assim, tão absurda. Sou muito aquecida, quando começo a falar, tenho que ir devagar, senão falo demais.

    Então o que quis dizer na época? O que disse é que acho que deve ter sido muito difícil para quem trabalhava com ela e tinha que continuar trabalhando. É terrível uma pessoa pública falar dessa forma. Só que a frase foi tirada do contexto.

    Você não faz um posicionamento claro em quem votou, ao contrário de vários apresentadores. Por quê? Não falo, tem coisas que soam como campanha política. E não é porque escolhi, que sempre acertei. Não faço nem nunca faria campanha política.

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    Como cidadã, qual é a sua avaliação do início do atual governo? Tem muita coisa a se fazer. Torço para que a gente tenha um país mais justo, com a desigualdade menor. Não foi o Brasil que teve grandes problemas, foi o mundo inteiro (com a pandemia). Mas espero que a gente possa, no final de ano, ver um Brasil com mais oportunidades.

    A Globo ainda é um sonho para você? Não tenho esse sonho de ‘quero trabalhar em tal lugar’. Isso me frustra demais, com todos aspectos da minha vida. O que planejo, no máximo, são as férias do próximo fim de ano, é o mais distante que planejo. Não sonhei trabalhar na Record. Não sonhei, não sonho trabalhar na Globo. As coisas acontecem quando a gente se permite. Aprendi na terapia que a melhor coisa é a gente não se frustrar.

    Cátia Fonseca –
    Cátia Fonseca (Divulgação/Divulgação)
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