Aos 80 anos, Edgard Telles Ribeiro acumula profissões. Além de romancista, ele também é jornalista, escritor, diplomata, crítico e professor de cinema e já foi embaixador brasileiro na Nova Zelândia, nos Estados Unidos, no Equador e na Guatemala. Agora, Edgard é um dos candidatos a se tornar imortal na Academia Brasileira de Letras (ABL), na vaga deixada por Antonio Cícero, compositor e poeta brasileiro que morreu em outubro deste ano. Nascido no Chile, Edgard se naturalizou brasileiro no Rio de Janeiro. Em sua carreira, já publicou mais de 15 livros, incluindo Olho de rei e Histórias mirabolantes de amores clandestinos. O criado-mudo, seu livro de estreia, já foi publicado nos EUA, Alemanha e Holanda. E o mais recente título, Jogo de armar, pela Todavia, está entre as semifinalistas do Prêmio Jabuti 2024. Ele conversou com a coluna Gente sobre a eleição, que será realizada pela instituição no dia 11 de dezembro.
Por que o senhor resolveu se candidatar para ser imortal da ABL na cadeira deixada por Antonio Cícero? É muito comum que candidatos apresentem suas candidaturas mais de uma vez. É meu caso, pois concorri meses atrás à vaga de meu amigo e colega, Embaixador Alberto da Costa e Silva, tendo sido derrotado pela historiadora Lília Schwarz. Daí ter decidido reapresentar a candidatura.
O que significa ser imortal na ABL em 2024? No contexto de uma academia que busca ser mais diversa e inclusiva. Como o senhor se vê dentro dessa diversidade? Somos cerca de quinze candidatos a essa vaga. Não posso falar por meus colegas, mas imagino que todos nós nos sentimos em perfeita sintonia com os projetos levados adiante por todos os Acadêmicos em anos recentes, no sentido de valorizar e aprofundar abordagens cada vez mais diversas e inclusivas no âmbito de uma agenda cultural que espelhe os desafios existentes em um país como o Brasil.
É comum pesquisas que apontam a falta do hábito de leitura entre os brasileiros. Como mudar isso? Qual o papel do escritor nesse sentido? A falta do hábito da leitura entre brasileiros, um desafio comum a todos os países em desenvolvimento, vem sendo objeto de análise pelo Governo. Uma vez mais, só posso imaginar que a ABL esteja pronta e habilitada a participar, dentro de suas áreas de competência, desse mutirão do qual idealmente deveriam igualmente fazer parte todos os setores pensantes deste país, no âmbito público quanto privado.
Além de escritor de romances, o senhor também foi embaixador do Brasil e trabalhou por anos na diplomacia. Como isso ainda costura os seus trabalhos? Ao longo de meus 48 anos dedicados ao Itamaraty, tive a sorte de trabalhar sobretudo na área cultural do Ministério, cujo Departamento Cultural acabei inclusive chefiando entre 2002 e 2005. Em 1989, publiquei uma tese acadêmica no âmbito do Instituto Rio Branco intitulada “Diplomacia Cultural, um instrumento a favor da política externa brasileira”. Nela explico que onde a política, o comércio e a economia por vezes falham, a cultura sempre prevalece, plantando entre povos de distintas origens sementes férteis que abrem portas para laços duradouros.