Quais os novos rumos da TV aberta diante da mudança de hábito do consumidor brasileiro? Essa é a pergunta que profissionais da área mais têm feito nos últimos tempos, na tentativa de antecipar tendências do mercado audiovisual. Para o pesquisador Mauro Alencar, 60 anos, doutor em teledramaturgia pela USP, professor de pós-graduação no Centro Universitário Belas Artes e por décadas consultor da TV Globo, a hegemonia da emissora está com os dias contados, diante do avanço das empresas de streaming, principalmente na formação de novos telespectadores. Recentemente, Alencar contou a VEJA que doou todo seu rico acervo de teledramaturgia para uma universidade em São Paulo. A seguir, trechos do bate-papo com Alencar, autor do livro A Hollywood brasileira – panorama da telenovela no Brasil:
USO DA MEMÓRIA
“Ninguém liga mais para nada! Acho lamentável o que estão fazendo com a memória no país. Não aprendemos com os Estados Unidos. Os grandes parques da Disney, por exemplo, alimentam a memória da população, é algo fenomenal. As memórias histórica e afetiva fomentam a economia criativa. Os americanos criaram a radionovela, as séries, a indústria do entretenimento, tudo baseado em memória. Você vai a um parque para cultivar a memória afetiva de filmes”.
EFEITOS DO STREAMING
“A TV hoje está toda fragmentada, é resultado direto do que o streaming está provocando no mercado audiovisual. A novela enquanto gênero ainda vai permanecer por um bom tempo, mas se adaptando de outras maneiras, mais atenta à pluralidade do gosto do público”.
FIM DA HEGEMONIA
“A mensagem de massa não existe mais. Irmãos coragem é o Brasil de ponta a ponta. A nova versão de Pantanal, não, ainda que tenha grande audiência e enorme repercussão. A Globo não vai perder hegemonia para a TV Record ou o SBT, está perdendo para o streaming. Dia desses estava no Rio, parei para comprar um biscoito numa banca, e o rapaz me perguntou se eu não queria levar mais um pacote para comer enquanto vejo alguma série da Netflix. É disso que estou falando. Há uma mudança comportamental em curso”.
NOVOS TEMPOS
“Hoje cada um vê sua novela da forma que quer, onde quer. E pensar que em 1964/ 1965, milhares se reuniram no estádio do Maracanãzinho, no Rio, e o Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, para assistir ao último capítulo da novela O direito de nascer, das já extintas TV Tupi e TV Rio”.